Diferentemente da Câmara dos Deputados, onde o governo possui maioria, o Senado tem se mostrado um terreno pantanoso ao Palácio do Planalto e é de lá que o presidente vem colhendo sucessivos reveses. Ali, as pautas caras ao bolsonarismo não avançam. Sem falar na CPI da Pandemia, dominada pela oposição. Nos últimos dias, mais um desgaste com a Casa, que é responsável por julgar ministros do STF: depois de Bolsonaro anunciar a intenção de pedir o impeachment de Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, seus desafetos no Supremo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), jogou um balde de água fria na ideia, dizendo que não a levaria adiante.
A tentativa de reverter esse ambiente hostil foi um dos fatores decisivos na escolha de Ciro Nogueira para assumir a Casa Civil. Dentro do pacote da campanha da reeleição, o senador do PP do Piauí deve assumir também o papel de escolher as principais apostas do bolsonarismo para a Casa em 2022. Assim, em uma eventual recondução do capitão ao Palácio do Planalto, ele finalmente teria maior controle sobre o Senado. O pleito será duro, com a renovação de apenas um terço das 81 cadeiras. “Ciro será o grande articulador da campanha”, diz um interlocutor do presidente. O ponto principal dessa articulação inclui o apoio a nomes viáveis e capazes de se alinhar com o Centrão, sua base no Congresso. O próprio presidente cogita se candidatar à reeleição pelo PP do ministro da Casa Civil.
Seguindo o critério que leva em conta a possibilidade de vitória, alguns nomes do primeiro escalão do governo despontam no horizonte como os favoritos de Bolsonaro. O ministro do Turismo, Gilson Machado (sem partido), é um deles. O sanfoneiro da Esplanada pode se lançar por Pernambuco, seu estado natal, ou por outro menos concorrido, como o Tocantins. Ele evita falar em candidatura, mas diz que é um “homem de missão” (ou seja, cumprirá a tarefa que lhe for dada). Também são pré-candidatos os ministros Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, e Fábio Faria (PSD), das Comunicações. Ambos são do Rio Grande do Norte, o que pode provocar uma disputa doméstica. Marinho tem feito viagens para inaugurar obras no estado. Faria, por sua vez, mostrando-se empolgado com a ideia de concorrer, publicou no Twitter, na quarta 18, uma pesquisa que o coloca no topo das intenções de voto para o Senado potiguar.
A exemplo do Rio Grande do Norte, em Santa Catarina há mais de uma opção. O presidente pode apoiar a candidatura de seu atual secretário da Pesca, Jorge Seif Jr., ou do deputado federal Daniel Freitas (PSL), que ganhou notoriedade como relator da PEC Emergencial. Ou, ainda, apostar no empresário Luciano Hang. Por Mato Grosso, Bolsonaro já declarou que tem seu candidato, o deputado José Medeiros (Podemos). “Meu estado é muito bolsonarista, todos querem o apoio do presidente”, diz. Já em São Paulo, a definição do nome governista está em compasso de espera, mas a tendência é de apoio ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf (MDB), caso ele decida se candidatar ao Senado.
Independentemente dos acertos firmados em Brasília, a militância bolsonarista tem se entusiasmado nas redes com outros pré-candidatos. No Paraná, pretende concorrer pelo PTB o jornalista Oswaldo Eustáquio, que chegou a ser preso preventivamente no curso do inquérito do STF sobre atos antidemocráticos, mas acabou liberado da prisão e das medidas restritivas um ano depois. No Distrito Federal, a deputada Bia Kicis (PSL), presidente da CCJ da Câmara, tem sido também incentivada a buscar o Senado. “Nada está fora de cogitação, mas nada está definido. Tudo depende das conversas com os aliados”, diz a parlamentar, que é uma das aliadas mais radicais do governo. Falta ainda combinar com o eleitorado, é claro. Até agora, Bolsonaro não conseguiu se mostrar um cabo eleitoral eficiente. Se o apoio do presidente não ajudou a eleger muita gente no pleito de 2020, quando ele estava com a popularidade em alta, o desafio será ainda maior caso a atual fase de baixa de imagem não seja revertida até 2022.
Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752