O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), elevou o tom nesta terça-feira na crítica ao presidente da República, Jair Bolsonaro, que discursou hoje na Assembleia Geral da ONU.”Primeiro, inadequado. Segundo, inoportuno. Terceiro, sem referências que pudessem trazer respeitabilidade e confiança ao Brasil no plano ambiental, no plano econômico e no plano político. Quarto, péssima repercussão internacional. O mundo inteiro está repercutindo pessimamente a intervenção do presidente na Assembleia Geral das Nações Unidas”, disse o governador em coletiva no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.
Nas últimas semanas, o relacionamento entre os ex-aliados se esgarçou completamente, com uma escalada na troca de hostilidades e os dois tentando se viabilizar eleitoralmente em 2022. Nos últimos meses, Doria, que se elegeu com o slogan Bolsodoria, aproximou-se de ex-companheiros de Bolsonaro, como o deputado Alexandre Frota e o empresário Paulo Marinho, deu acenos de apoio ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e fez viagens internacionais para melhorar a imagem do Brasil no plano ambiental e econômico, conforme ele mesmo anunciou. Bolsonaro se irritou com as movimentações e passou a dizer que Doria era “amigão” dos ex-presidentes Dilma e Lula e que “mamou” nos governos do PT ao comprar um jatinho pela sua empresa com financiamento do BNDES, em 2010.
Doria vinha alfinetando o presidente em críticas pontuais à indicação do filho Eduardo Bolsonaro para a embaixada americana e ao posicionamento do presidente em relação à questão ambiental, mas na última semana ele decidiu endurecer os ataques. Na sexta-feira passada, o governador disse em Tóquio que o presidente deveria governar mais e tuitar menos. E, nesta segunda-feira, disparou contra o discurso do presidente na ONU.
“Lamento que o presidente tenha perdido mais uma oportunidade para o Brasil, o país para o qual foi eleito para representá-lo bem. Faltou bom senso e humildade”, completou o governador.
Em sua fala no plenário da ONU, Bolsonaro abriu frentes de ataques contra os governos de esquerda no Brasil, a posição da França frente aos incêndios na Amazônia e contra o cacique caiapó Raoni Metuktire, uma das principais vozes contra as políticas indigenista e ambiental da sua gestão. Sob a alegação de que trazia a “verdade” ao plenário, o presidente brasileiro criticou até mesmo a própria ONU, a quem acusou de “perverter a identidade biológica”, em referência à agenda da organização em favor da diversidade de gênero. “Apresento aos senhores um novo Brasil, que esteve à beira do socialismo”, declarou no início de seu discurso de 31 minutos.