Dividido, PT do Rio avalia apoiar candidato da direita no interior em 2024
Sob disputa no estado, partido faz cálculos políticos para manter força no berço do bolsonarismo

De olho nas eleições municipais de 2024, o PT do Rio se divide cada vez mais, o que tem impedido um consenso em definir apostas tanto na capital, quanto no interior. Base do prefeito Eduardo Paes (PSD) com três secretarias, o partido ensaia um apoio à sua reeleição, mas reivindica uma improvável cadeira de vice, enquanto outro grupo acredita que o mandatário sequer deve ser apoiado. Já em Duque de Caxias, terceiro maior colégio eleitoral do estado, parte dos petistas já manifesta a intenção de caminhar à direita, numa inesperada aliança com o grupo que comanda a cidade, do ex-prefeito Washington Reis (MDB), simpático a Jair Bolsonaro (PL) nos últimos pleitos.
A ideia não tem agradado à cúpula do PT: no diretório de Caxias, políticos ligados ao deputado federal e vice-presidente do partido Washington Quaquá, capitaneados na cidade pelo ex-ministro e ex-deputado Celso Pansera, acenam para a entrada no governo do atual prefeito local, Wilson Miguel Reis (MDB), tio do ex-prefeito Washington Reis e parte do grupo que comanda a cidade nos últimos anos. O problema é que esse mesmo grupo caminhou na linha de Jair Bolsonaro e de políticos bolsonaristas nas eleições passadas. Washington Reis, inclusive, chegou a ser apontado como vice do governador Cláudio Castro (PL) no ano passado, mas teve de deixar o posto por determinação do TSE.
O cálculo, arriscado, leva em conta o cenário nacional do PT, além de um apoio para 2024. Os que defendem tal proposta apontam que isso poderia fidelizar mais três votos no Congresso: dos deputados federais Marcos Tavares (PDT), Áureo Ribeiro (Solidariedade) e Gutemberg Reis (MDB), que integram o grupo de Washington Reis. E contribuiria também para aproximar o partido do governo do estado, já que Castro tem buscado se distanciar de Bolsonaro.
Opositores da ideia alegam, no entanto, que tais partidos já integram a base do governo Lula, e que se unir à direita no berço do bolsonarismo passaria um péssimo recado ao eleitorado. “É um pragmatismo louco. Washington Reis representa o pior da direita no Rio. Se a gente não pontuar nossas diferenças, o eleitor não vai entender nada”, diz um deles. Até o momento, no entanto, o PT não tem ventilado nomes para a disputa na cidade. O PV, federado aos petistas, aponta a candidatura de Zito, ex-prefeito local, numa costura para fazer frente justamente ao grupo de Reis.
A cerca de um ano da eleição, há tempo para que as arestas no partido sejam aparadas. A tendência é que a Executiva Nacional também participe dessas decisões, de modo a reforçar apoios de partidos estratégicos no Congresso, como PSD e o próprio MDB. No Rio, no entanto, o diretório fluminense já deu mostras de que não vê problema em atuar de maneira bem mais pragmática.