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DEM: A encruzilhada entre a adesão ao governo e a rivalidade em 2022

Bolsonaro tenta atrair partido para a sua órbita e, assim, evitar a construção de uma frente ampla de oposição nas próximas eleições

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 fev 2021, 11h03 - Publicado em 4 jan 2021, 10h10
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  • No último dia 16, o presidente do DEM, ACM Neto, foi até o Palácio da Alvorada para tomar um café da manhã com o presidente Jair Bolsonaro. O encontro era costurado há tempos por um time de ministros, entre eles Fábio Faria (Comunicações), Tereza Cristina (Agricultura) e Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura). Antes de chegar à mesa, o democrata já havia sido sondado sobre seus planos futuros e sobre a possibilidade de assumir um ministério de Bolsonaro. Neto respondeu que mira o governo da Bahia em 2022, e que, por esse caminho, não há a perspectiva de passar alguma temporada na Esplanada. Nada que o impeça, por outro lado, de deixar as portas abertas para outros tipos de negociações.

    De olho em 2022, o DEM tem intensificado conversas com diferentes (e até antagônicas) frentes. As negociações abarcam desde a possibilidade de uma candidatura própria nas próximas eleições a uma fusão da legenda com o PSL, passando ainda pela avaliação sobre se seria mais vantajoso apoiar Bolsonaro ou um adversário daqui a dois anos. Nenhuma opção está descartada – e o presidente e seus auxiliares já foram informados disso.

    Para a adesão a Bolsonaro ser formalizada, porém, há algumas condições. A principal delas, seria uma mudança de postura do presidente da República, com o abandono do radicalismo e uma moderação em questões diplomáticas, ambientais e relativas ao coronavírus. Dadas as últimas declarações de Bolsonaro, não há sinais concretos de mudança. Mesmo assim, ACM Neto, conhecido pelo seu pragmatismo, foi ao encontro do presidente.

    Há diferentes visões sobre a aproximação. Do lado governista, a avaliação é a de que o sucesso do projeto eleitoral de Neto de virar governador em 2022 passa por ganhar o apoio do governo, garantir investimentos públicos na região e fisgar parcela do eleitorado baiano que rivaliza com o PT – o provável adversário do democrata é o senador Jaques Wagner. “Os petistas não vão apoiá-lo. Qual opção tem? Pegar os eleitores de Bolsonaro. Esse movimento é pensado e é eleitoral e local”, diz um parlamentar. O DEM atualmente tem dois ministérios (Cidadania e Agricultura) e há intensas movimentações para que o senador Davi Alcolumbre assuma alguma pasta este  ano. Lideranças do DEM defendem que o partido continue independente e que a participação de seus correligionários na gestão Bolsonaro não envolva a cúpula partidária, que tenta não criar amarras e continuar levando adiante as tratativas com outras forças políticas.

    Democratas afirmam que Bolsonaro está de olho na popularidade de ACM Neto na Bahia, um dos principais redutos da rejeição ao presidente, ao mesmo tempo em que tenta minar a construção de uma frente ampla que vem sendo estruturada pela legenda. O DEM mantém intensas conversas com Luciano Huck (sem partido), João Doria (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e também com o MDB, todas na direção de uma candidatura para rivalizar com o Bolsonaro em 2022.

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    É para esse caminho que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tenta levar o partido. Recentemente, ele demonstrou irritação ao ser questionado sobre a aproximação de ACM Neto com o governo Bolsonaro. Maia vem se colocando como um articulador dessa frente para 2022 e seu principal teste de fogo ocorre na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, com o desafio de segurar os votos de partidos de esquerda, centro-esquerda e centro-direita ao candidato Baleia Rossi, do MDB.

    Boa parte das dificuldades, porém, é interna. Uma parcela de deputados do DEM ameaçou apoiar Arthur Lira, do Progressistas, o que minaria o projeto de Maia e, consequentemente, sua tentativa de demonstrar força política ao eleger um sucessor. Além disso, pessoas ligadas ao presidente da Câmara afirmam que o seu favorito para disputar o cargo era o deputado Aguinaldo Ribeiro, do Progressistas. Uma articulação capitaneada por Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco, no entanto, acabou guindando a candidatura do emedebista. Isso porque os democratas entendem que, estrategicamente, seria melhor lançar Baleia na Câmara, de modo a dificultar uma outra candidatura do MDB no Senado.

    Diante das turbulências, chegou-se a aventar a possibilidade de que Maia poderia deixar o DEM. Por ora, a saída vem sendo descartada, mas o presidente da Câmara é um dos defensores da ideia de que o seu partido faça uma fusão com o PSL. As tratativas começaram no ano passado, logo após o presidente Jair Bolsonaro ter rompido com a legenda. ACM Neto já se reuniu com Luciano Bivar e Antônio Rueda, os caciques da legenda, mas as negociações estão travadas por dois motivos: a possibilidade de Bolsonaro retornar ao partido, o que impediria a aproximação do DEM, e o fato de nenhum dos lados topar ceder o comando e dar uma nova cara à agremiação que será formada.

    No meio desse xadrez político, o presidente do DEM, ACM Neto, encerrou o seu mandato na prefeitura de Salvador e pretende dedicar o próximo ano para trabalhar os candidatos do partido para os governos estaduais. A meta é, em um ano, consolidar oito nomes robustos em estados importantes e dez ao Senado, além de montar palanque majoritário na maioria dos estados. Neto, como não é segredo para ninguém, sonha em um dia disputar a Presidência da República.

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