Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Delegado afirma que Joesley ‘mentiu e ocultou’ fatos em delação

Para responsável pela Operação Capitu, objetivo do empresário era 'tirar' a apuração 'da linha de investigação correta'. Delator e ex-ministro foram presos

Por Redação
Atualizado em 9 nov 2018, 18h11 - Publicado em 9 nov 2018, 16h09

A Polícia Federal afirmou nesta sexta-feira, 9, que as investigações da Operação Capitu, deflagrada em cinco estados e no Distrito Federal, deixaram claro que o empresário Joesley Batista, um dos sócios do Grupo J&F, dono da JBS, “mentiu e ocultou fatos” na delação premiada que firmou no âmbito da Operação Lava Jato. Para um dos delegados responsáveis pela apuração, o objetivo do empresário era “tirar” a PF “da linha de investigação correta”. Ele está entre os presos na ação.

“A PF descobriu omissões intencionais e contradições graves que colocam em xeque a credibilidade da delação. Isso caracterizou obstrução de Justiça e prejuízo à instrução criminal do inquérito. Mentiram e omitiram sobre pontos. Há indícios fortes disso”, disse Mario Veloso, delegado da PF em Minas Gerais .

Segundo Veloso, a delação do empresário pretendia “tirar a Polícia Federal da linha de investigação correta, levando ao interesse desses colaboradores, colocando em risco a própria credibilidade da PF, responsável pela investigação, do Ministério Público e da própria Justiça”. O delegado afirmou também que quando as conclusões das investigações foram confrontadas com delações, houve quatro oportunidades para que os colaboradores fornecessem informações, o que não ocorreu.

“Isso prejudica a legitimidade dessa colaboração, embora muitas das provas apresentadas e declarações dos colaboradores sejam válidas, independentemente de essa colaboração ser invalidada futuramente ou não”, afirmou Veloso. Conforme lembrou o delegado, a colaboração de Joesley foi rescindida unilateralmente pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e aguarda posicionamento final do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Desdobramento da Lava Jato, a Operação Capitu se baseia nas revelações da delação premiada do doleiro e lobista Lúcio Bolonha Funaro a respeito de um esquema de pagamento de propina a representantes do Ministério da Agricultura pela JBS, entre 2014 e 2015. Entre os presos estão o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade (MDB), e o deputado federal eleito Neri Geller (PP-MT), que foram ministros da pasta no governo Dilma Rousseff (PT).

Continua após a publicidade

Ao todo foram emitidos dezenove mandados de prisão. Do total, três não foram cumpridos até o momento. Antônio Andrade foi preso em Vazante, região noroeste de Minas Gerais. Há ainda advogados e empresários entre os alvos dos mandados. Pelo menos um sócio de uma rede de supermercados supostamente ligada ao esquema é considerado foragido, mas negocia sua entrega à PF. O empresário está no Uruguai.

Até 30 milhões de reais em propina

A operação deflagrada hoje apura o repasse de recursos por frigoríficos a representantes do Ministério da Agricultura. Em troca, segundo a PF, medidas que beneficiavam o setor eram tomadas pela pasta. Há indícios de pagamento, em uma única negociação, de 15 milhões de reais. O valor total em propina chegaria a 30 milhões de reais.

Uma das medidas tomadas pelo ministério e que gerou o pagamento de propina, segundo a PF, diz respeito a exportações do setor de proteína animal. “Isso impediu que empresas de menor porte atendessem requisitos do ministério, concentrando produção nas empresas maiores”, afirma o delegado Mario Veloso.

Os recursos, ainda segundo a corporação, teriam sido repassados a políticos do MDB, partido de Antônio Andrade. O deputado estadual João Magalhães (MDB), também detido, teve o mandato suspenso e foi proibido de contatar outros investigados na Capitu.

O dinheiro das supostas propinas, conforme os investigadores, era lavado via escritórios de advocacia e por uma rede de supermercados de Minas Gerais. Um total de 9 milhões de reais teria sido repassado a candidatos do MDB nas eleições de 2014, o que poderá acarretar investigação sobre fraude eleitoral.

Continua após a publicidade

Pelo menos parte dos recursos chegou a ser repassada pela rede de supermercados em malas e caixas de sabão, segundo o delegado Veloso. “Durante as investigações, chegamos a falar em pagamento de ‘propina cabo’, em referência ao dólar cabo”. A rede de supermercados é cliente dos fornecedores de proteína animal.

Outro lado

Em nota, a defesa do vice-governador Antônio Andrade disse que “haverá manifestação tão logo a defesa tome conhecimento do conteúdo do inquérito. Durante o depoimento, Andrade respondeu a tudo o que lhe foi perguntado e colaborou com o trabalho da Polícia Federal”.

O advogado André Callegari, que defende Joesley Batista, afirmou que o empresário “é colaborador da Justiça e tem cumprido à risca essa função. Portanto, causa estranheza o pedido de sua prisão no bojo de um inquérito em que ele já prestou mais de um depoimento na qualidade de colaborador e entregou inúmeros documentos de corroboração. A prisão é temporária e ele vai prestar todos os esclarecimentos necessários.”

Em nota, o advogado Pierpaolo Bottini, também defensor de Joesley, disse que “a investigação só existe porque os executivos da J&F colaboraram com a Justiça. O acordo segue vigente. Joesley, Ricardo Saud e Demilton Castro já depuseram, cada um deles, três vezes na Justiça, e nunca se recusaram a colaborar. Esperamos que a prisão seja revogada assim que esclarecidos os fatos.”

(com Estadão Conteúdo)

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.