A Defensoria Pública da União apresentou no último dia 2 ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin novo pedido para que a Justiça brasileira flexibilize a prisão do russo Sergei Vladimirovich Cherkasov, detido no país como desdobramento de um processo de extradição em que é acusado de integrar uma organização criminosa de venda de heroína na Rússia. Para a Polícia Federal, Cherkasov, que também foi condenado no Brasil por uso de documento falso, seria na verdade um espião que se passava por brasileiro para colher informações de interesse do regime de Vladimir Putin.
O caso de Serguei Cherkasov voltou à tona após a Polícia Federal ter deflagrado três fases de uma operação que investiga a suposta atuação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no monitoramento ilegal de desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro. A despeito de ter sido dragada pelas suspeitas de que um órgão de Estado pode ter utilizado de seu corpo de servidores para perseguir e espionar adversários do ex-mandatário, a Abin tem entre suas atribuições, por exemplo, apurar e identificar possíveis infiltrados de governos estrangeiros no país, como, em princípio, seria o caso do pretenso espião.
Apenas no caso da Rússia, a agência tentou recentemente – e em vão – ter acesso a uma lista de 1.500 russos tidos como personae non gratae pelo governo dos Estados Unidos. A ideia era verificar se Cherkasov, também alvo de um pedido de extradição feito pelos americanos, estava entre os nomes arrolados.
Quem é o espião russo preso no Brasil?
Nos pedidos encaminhados ao ministro Edson Fachin, a Defensoria Pública não faz menção ao fato de Cherkasov, que usava o nome fictício de Victor Muller Ferreira, ser suspeito de integrar a rede de espionagem do Kremlin e sugere que ele seja colocado em liberdade com a imposição de medidas cautelares. O motivo: o crime pelo qual foi condenado no Brasil já permitiria que ele passasse a cumprir a pena de cinco anos e dois meses em regime aberto. A estratégia de defesa, porém, deve surtir pouco efeito.
Hoje no presídio federal de segurança máxima de Brasília, ele é investigado em um caso sigiloso que apura sua atuação em um esquema de espionagem, e Fachin já decidiu em pedidos anteriores que o suspeito permanecerá preso até que este caso seja concluído.
Serguei Cherkasov teve os bens bloqueados e os sigilos bancário e telemático quebrados para se averiguar se ele atuou como espião a serviço da Rússia no Brasil, nos Estados Unidos e na Irlanda e se praticou os crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva para encobrir sua identidade.
No processo conduzido por Fachin, o fato de o russo ter dito à Justiça brasileira que tinha interesse na chamada extradição voluntária, quando o criminoso admite participação nos crimes listados pelo país de origem e pede para retornar para cumprir a pena, chamou a atenção dos policiais e reforçou a tese de que, com a medida, ele poderia ficar impune.