Integrantes do alto escalão das Forças Armadas têm demonstrado incômodo com o vazamento feito a conta-gotas do conteúdo da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Cid fechou um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal há mais de dois meses. Desde então, os investigadores têm mantido o material sob total sigilo, mas alguns trechos já foram divulgados pela imprensa.
O ministro da Defesa, José Múcio, chegou a se reunir com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, em busca de mais informações sobre o conteúdo. O relator, porém, não compartilhou as informações.
Atualmente, somente o STF, a PF e a Procuradoria-Geral da República têm acesso às investigações.
As Forças Armadas argumentam ser importante conhecer o teor da delação para, a partir dele, definir quais serão as providências internas. Não se sabe, por exemplo, se houve menção a algum nome que continua em cargo de influência ou qual será o destino dado a Mauro Cid, cuja carreira dentro do Exército estava em plena ascensão.
Além disso, há uma reclamação de que os vazamentos “parcelados” prolongam o desgaste das forças, que, em evidência durante os quatro anos do governo Bolsonaro, agora tentam submergir e sair dos holofotes do noticiário político.
Entre as declarações de Cid já tornadas públicas há a revelação, feita por VEJA, de que o ex-presidente Bolsonaro determinou a ele a venda de joias recebidas pelo governo brasileiro. O valor, relatou Cid, foi todo entregue em espécie ao ex-mandatário. VEJA também mostrou que o tenente-coronel detalhou como funcionava um “gabinete do ódio” dentro do Palácio do Planalto.
Reportagens publicadas depois relataram que Cid detalhou um suposto plano de um golpe militar para reverter a vitória de Lula sobre Bolsonaro. A proposta teria tido o aval do então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier. No entanto, os chefes do Exército e da Aeronáutica teriam rechaçado a intentona.