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Prevent mudava ficha de pacientes para retirar menção à Covid, diz diretor

Pedro Benedito Batista Júnior falou à comissão sobre a suposta pressão da empresa na prescrição do chamado 'kit Covid'

Por Elisabete Alexandre Atualizado em 1 out 2021, 12h47 - Publicado em 22 set 2021, 10h13
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  • A CPI da Pandemia ouviu nesta quarta-feira, 22, o médico Pedro Benedito Batista Júnior, diretor-executivo da operadora de saúde Prevent Senior. Ele é questionado sobre a suposta pressão que a empresa teria feito aos médicos conveniados para prescrever o chamado ‘kit Covid’ aos pacientes. Os senadores também perguntam sobre a denúncia de que o plano de saúde teria ocultado mortes de pacientes em um estudo realizado para testar hidroxicloroquina associada à azitromicina no combate ao coronavírus.

    O depoimento

    O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, negou acusação da CPI da Covid de que a empresa teria feito um “estudo clínico” para balizar a aplicação do chamado kit covid. Ele também negou que tenha ocultado mortes por Covid-19 e, em depoimento ao colegiado, responsabilizou médicos vinculados à operadora por suposta manipulação de dados e divulgação indevida de prontuários de pacientes.

    A versão de fraude fundamenta a defesa da Prevent Senior em relação às suspeitas apuradas pela comissão. O Parlamento investiga se a empresa pressionou ou não seus médicos a receitar, para fins de um estudo interno, o kit covid —composto por medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da doença (como hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e outros).

    Pedro Benedito Batista Júnior negou que a Prevent tenha escondido mortes por Covid-19, mas confirmou que houve a orientação para que os médicos modificassem o CID (código de diagnóstico) de pacientes que deram entrada com a doença, após 14 ou 21 dias, a depender do caso de cada um. Ele alegou que a medida foi tomada para que se identificassem pacientes que não representariam mais riscos de transmissão do novo coronavírus. Senadores da CPI, porém, enxergaram uma tentativa de manipulação e subnotificação de casos e mortes.

    “O senhor realmente não tem condição de ser médico com a desonestidade que eu vi agora. Sinceramente, sinceramente, modificar o código de uma doença é um crime. Infelizmente, o Conselho Federal de Medicina não pune o senhor”, declarou Otto Alencar (PSD-BA).

    Em nota, a Prevent Senior informa que a mudança do código é um procedimento interno e “se dava num sistema informatizado de gestão interna de leitos. As notificações oficiais de casos e mortes de Covid não eram nem são afetadas por estes procedimentos administrativos”.

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    Em sua fala inicial, Pedro Benedito disse que sua empresa sofreu “acusações infundadas” desde o início da pandemia. Em seguida, negou que a Prevent Senior tenha omitido mortes em um estudo com medicamentos ineficazes de combate à Covid-19. “Ocorreram somente dois óbitos, e o noticiário tirou totalmente de contexto esse documento e pegou mortes que ocorreram após o dia 4 como se tivessem ocorrido anteriormente”, afirmou.

    Na sequência, o depoente acusou um casal de médicos que trabalhava no grupo de manipular dados internos “para tentar comprometer a operadora”. Segundo ele, esse casal invadiu o sistema, acessou a planilha e a adulterou. Os médicos teriam feito isso após serem demitidos. Posteriormente, o documento foi encaminhado para uma advogada no dia 28 de agosto sem autorização de familiares e pessoas presentes na planilha.

    Para o diretor, os dados “foram manipulados para deturpar a real conduta de 3.000 médicos e atacar uma empresa idônea”. Segundo ele, os acusadores tentaram “ferir a imagem da Prevent na imprensa e não procuraram a Justiça” e que só depois procuraram o jurídico da empresa “para tentar um acordo”. Por fim, pediu investigação sobre o suposto crime de manipulação de dados.

    Sobre a prescrição da cloroquina, o diretor da Prevent Senior afirmou que, no início da pandemia, pacientes infectados passaram a pedir que o medicamento fosse receitado. Isso aconteceu após declarações do presidente Jair Bolsonaro e de outras pessoas influentes em defesa do remédio. O depoente ressaltou, contudo, que “quem prescreve qualquer medicação é o próprio médico”. Ele justificou que naquele momento pacientes estavam desesperados por respostas diante da nova doença.

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    “Isso, quando veio ao encontro dos médicos que estavam na linha de frente tentando salvar vida dos pacientes, tornou-se uma situação, como não havia respostas ainda, necessária para que houvesse, após feita a prescrição, medicação disponível”, disse. O médico também salientou que não há problema e nem crime no fato de a rede oferecer o remédio “após prescrição do médico”.

    Após exibição de vídeo em que um suposto representante da Prevent Senior afirma que, após assinatura do contrato com a empresa, seria enviado ao cliente o kit Covid, Batista júnior negou que tenham sido enviados tais medicamentos. “Eram enviadas as medicações prescritas pelos médicos aos pacientes, nunca houve kit anticovid”, disse. No vídeo, o representante da empresa afirma que a Prevent quer evitar que o cliente adoeça, porque isso gera custos. Assim, seria enviado aos clientes o kit com ivermectina, cloroquina e outros medicamentos, “para evitar” o adoecimento.

    Na sequência, alguns senadores acusaram o diretor de mentir à CPI. Renan Calheiros disse ter provas de que os kits foram enviados. Rogério Carvalho também relatou que teve acesso a receitas que comprovam a mentira.

    Posteriormente, o depoente também negou possível constrangimento de médicos que não prescreveram o ‘tratamento precoce’. “Médicos foram excluídos da empresa por falhas graves éticas e morais, como invasão de prontuários e tratamento inadequado de pacientes”, pontuou.

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    Envolvimento da Prevent Senior

    O comparecimento de Pedro Benedito Batista Júnior foi originalmente marcado para quinta-feira da semana passada, mas a comissão recebeu a informação, no dia, dada pela equipe de advogados do diretor-executivo, de que ele se ausentaria pois não teria tido tempo suficiente para se programar e estar presente à audiência.  O Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu habeas corpus ao médico dando-lhe o direito de permanecer em silêncio diante de questionamentos que possam incriminá-lo.

    O requerimento de convocação foi apresentado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), que afirma que a aquisição, distribuição e indução do uso de medicamentos como a cloroquina e a hidroxicloroquina, presentes no suposto ‘kit’ e que não possuem eficácia e segurança contra a Covid-19, “revelam inadequado investimento de recursos públicos em medida sanitária desprovida de respaldo científico”.

    Segundo Humberto Costa, clientes da Prevent Senior têm procurado os membros da CPI para denunciar a operadora de saúde falando da suposta pressão para aceitar o chamado tratamento precoce. Sem citar o nome, o senador inseriu uma delas no requerimento, que diz: “Minha companheira testou positivo ontem e ao passar pela consulta o médico disse que era protocolo da empresa oferecer o kit. Ela recusou. Mais tarde, em casa, recebeu um telefonema de um funcionário insistindo em que ela aceitasse tomar o kit com cloroquina, porque era o único remédio para isso, e que se a doença ficasse pior, não tinha o que fazer, a não ser entubar”.

    Ainda de acordo com o senador, a denúncia é objeto de avaliação no Tribunal de Contas da União, no âmbito de processo que está sendo movido por um grupo de profissionais médicos ligados à empresa. Na última quinta-feira (16), o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), submeteu à aprovação um requerimento de pedido de informações ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo sobre as denúncias de ameaças feitas aos profissionais. Já os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Humberto Costa sugeriram a possibilidade de a CPI ouvir os médicos denunciantes em reunião reservada, se for necessário.

    (com Agência Senado)

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