Os votos que salvaram o presidente Michel Temer (PMDB) na Câmara dos Deputados podem ser resumidos em uma palavra: estabilidade. Foi o clamor pela retomada do crescimento econômico que norteou as falas da maioria dos 263 políticos que defenderam o arquivamento da denúncia por corrupção passiva que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia apresentado contra o peemedebista.
Oitenta e duas manifestações trataram dessa questão. Os deputados evocaram a recuperação dos índices econômicos e mostraram confiar nas reformas que Temer quer aprovar no segundo semestre, entre elas a tributária e a da Previdência.
Ademir Camilo (Podemos-MG), um dos deputados que tratou da economia em seu discurso, destoou dos demais ao fazer uma crítica aos planos do Ministério da Fazenda enquanto apoiava o presidente. “Votei contra a terceirização e contra a reforma trabalhista. Vou votar contra a reforma da Previdência. Mas, pela estabilidade econômica, voto sim [ao arquivamento]”, afirmou.
Devido ao constrangimento de defender um presidente impopular diante das câmeras – a TV Globo transmitiu a votação ao vivo -, muitos deputados preferiram ser sucintos e foram ao microfone só para dizer que acompanhavam o relatório do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que defendia a rejeição da acusação. Foram 74 deputados que não fizeram nenhum tipo de comentário além de confirmar o apoio a Temer.
Outros deputados se aventuraram em questões jurídicas. Trinta e seis políticos afirmaram que não havia motivos para abrir um processo criminal contra o presidente nesse momento. Para este grupo de deputados, a investigação por corrupção passiva terá de ser aberta a partir de 1º de janeiro de 2019, quando Temer passar a faixa presidencial para o eleito em outubro de 2018. No caso, o peemedebista perderá o foro privilegiado e deverá prestar esclarecimentos a um juiz de primeira instância.
“A investigação pode esperar. Nós devemos ter responsabilidade com o nosso Brasil”, disse o deputado Renato Andrade (PP-MG). “Acho que aqui todos nós queremos a mesma coisa: a investigação. Mas, para mim, que a investigação venha no tempo certo, depois que o presidente sair do comando da Presidência”, declarou Zé Augusto Nalin (PMDB-RJ).
Para dezessete deputados, a denúncia formulada por Janot não deve nem ser avaliada na primeira instância. Eles creem que a peça é frágil e não apresenta provas suficientes para incriminar o presidente. A maioria disse ter lido a acusação, que se baseia na delação do empresário Joesley Batista, da JBS.
“Li a denúncia, item por item. Ela é inconsistente e frágil”, disse Celso Russomano (PRB-SP). “O povo brasileiro não aguenta mais ouvir falar dessa denúncia, que é ilegal, que foi produzida por provas ilegais, por um homem que tinha que estar preso. Temos de virar essa página e voltar a trabalhar”, afirmou Cristiane Brasil (PTB-RJ).
Houve 24 deputados que trataram da estabilidade política para defender seus votos. “Temos de parar de brincar de trocar de presidente como se troca de roupa”, disse Junior Marreca (PEN-MA). Também surgiram deputados que apoiaram Temer por serem contra a implementação do comunismo no Brasil. Eles alegaram que o PT voltará a ocupar o Executivo federal caso o peemedebista seja afastado do cargo.
Comunistas
“Contra a esquerda comunista que quebrou o país”, declarou Heuler Cruvinel (PSD-GO). “Não aceitamos mais o PT na nossa vida. Esse partido passou, temos que extirpar essa corja da nossa vida”, afirmou Laerte Bessa (PR-DF). “Contra quem apoia a ditadura de Maduro, que está matando os venezuelanos e os mandando para cá”, disse o delegado Edson Moreira (PR-MG).
Dezenove deputados deixaram claro que apoiavam Temer por conta da orientação expressada pela direção dos partidos. “Nem sempre fazemos o que temos vontade. Muitas vezes, temos que fazer aquilo que não queremos. Neste instante, eu voto com meu partido, que fechou questão e exige que seus filiados votem conforme sua vontade”, disse José Carlos Araújo (PR-BA).
Houve, ainda, quem aproveitasse o momento para elogiar o deputado Paulo Abi-Ackel. “Brilhante” foi um dos adjetivos que os políticos mais empregaram para se referir ao tucano. O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) foi além e classificou Abi-Ackel de “sábio”.