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Ciro Gomes amplia conversas e flerta com a terceira via nas eleições

Terceiro colocado nas pesquisas, mas há um ano sem sair de uma posição bem abaixo dos favoritos, pedetista inicia investida sobre as siglas de centro

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h08 - Publicado em 30 abr 2022, 08h00
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  • NAMORO - Ciro: conversas com a centro-direita para ampliar palanques -
    NAMORO - Ciro: conversas com a centro-direita para ampliar palanques – (@cirogomes/Twitter)

    O ex-governador Ciro Gomes (PDT) conduziu a sua campanha até aqui na base da “metralhadora verbal”: ataques tanto aos dois candidatos que estão bem a sua frente nas pesquisas — o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro — quanto à chamada terceira via, nome que se convencionou dar à tentativa de construir uma alternativa viável à polarização. A estratégia lhe rendeu desafetos e não produziu nenhum resultado eleitoral concreto. O pré-candidato está estagnado na corrida ao Palácio do Planalto há mais de um ano (veja o quadro abaixo). Embora a sua artilharia nas redes sociais continue mirando os líderes da disputa (“um rouba, mas faz, e o outro rouba sem fazer”, diz o novo jingle), o pedetista inicia, pelas bordas, uma firme investida sobre as siglas de centro.

    arte Ciro

    A busca de Ciro se dá em meio à aparentemente interminável hesitação das legendas centristas, tanto as que discutem uma candidatura única da terceira via quanto as que correm por fora, como o PSD do ex-ministro Gilberto Kassab. Se o pedetista e seu partido já tinham costuras com caciques de União Brasil e PSD em alguns estados importantes, a sinalização feita por ele nos últimos dias foi a de disposição para dialogar também com MDB, PSDB e Cidadania. “Ora, diálogo é diálogo, eu aceito participar”, disse. Por ora, o aceno não produziu resultado imediato, e o seu partido não foi convidado para a reunião do grupo na terça 26, em Brasília, que manteve para 18 de maio o anúncio do candidato da aliança da terceira via.

    O fato de não fazer parte dessa mesa de conversas não esfriou os ânimos do PDT e de seu postulante. A porta mais aberta para Ciro, por ora, é a do União Brasil, cujo presidente, Luciano Bivar, tornou-se importante interlocutor do pedetista. Na reunião de terça, o líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento, defendeu que os pedetistas sejam incluídos nas tratativas. O União Brasil já tem alianças com o PDT em alguns estados. Em dois deles, Bahia e Goiás, o partido de Ciro vai engrossar os palanques de ACM Neto e Ronaldo Caiado, caciques do União que disputarão os governos. As siglas também caminharão juntas em Santa Catarina, Alagoas e Mato Grosso. Em meio a sinalizações de que o União Brasil pode abandonar o “centro democrático”, há entre aliados de ACM Neto quem defenda que o partido mantenha a candidatura própria à Presidência, com Bivar, ou se alie a Ciro. “Se for pra ser vice e compor, melhor fazer com Ciro, com quem temos reciprocidades nos estados”, diz um parlamentar ligado ao ex-prefeito de Salvador. Além do mais, o União Brasil tem incompatibilidades locais intransponíveis com o MDB em estados como Bahia, Alagoas e Ceará, que dificultam o apoio da legenda à senadora Simone Tebet. Declarações dela de que só toparia ser cabeça de chapa irritaram Bivar. Outro pré-candidato, João Doria (PSDB), luta no momento para vencer as resistências que enfrenta no União Brasil.

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    AFAGOS - ACM Neto: apoio de Ciro a sua candidatura na Bahia e porta aberta ao pedetista no União -
    AFAGOS - ACM Neto: apoio de Ciro a sua candidatura na Bahia e porta aberta ao pedetista no União – (ACM Neto/Flickr)

    Enquanto vai avançando discretamente sobre a terceira via, Ciro e o PDT investem em acordos estaduais com o PSD. Exemplos disso são dois dos três maiores colégios eleitorais do país. Em Minas Gerais, Ciro recebeu elogios do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), que o classificou como “muito preparado e talhado” para ser presidente. Em outra frente, Ciro tenta atravessar uma negociação entre o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) e o PT, que enfrenta dificuldades para acerto na chapa. Lula já disse que deseja apoiar Kalil e o ex-prefeito gostaria de um palanque com o petista, mas também já se disse admirador de Ciro. No Rio de Janeiro, PDT e PSD tinham um acordo pela composição entre o ex-­prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) e o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz (PSD) para o governo, mas um desarranjo sobre quem ocuparia a cabeça de chapa atravancou o acerto, ainda não descartado. Eduardo Paes, prefeito do Rio e padrinho de Santa Cruz, tende a apoiar Ciro no plano federal, diante da aliança do PT com Marcelo Freixo (PSB), que é adversário de Paes. No Ceará, reduto de Ciro, PSD e PDT também andarão juntos.

    FORA DO CAMINHO - Moro: a saída do ex-juiz do páreo favoreceu a interlocução com o partido de Ciro -
    FORA DO CAMINHO – Moro: a saída do ex-juiz do páreo favoreceu a interlocução com o partido de Ciro – (Pedro França/Agência Senado)
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    O sucesso dos movimentos recentes em busca de um arco de parcerias ao centro na corrida presidencial tem como principal obstáculo o próprio Ciro, famoso por seu comportamento mercurial e o estilo “lobo solitário”. Em 2018, por exemplo, ele só conseguiu aliança com o Avante. Por esse histórico, boa parte da turma da terceira via enxerga com ceticismo uma aproximação. Mas é verdade também que um dos principais obstáculos para um acordo foi removido, que era a presença na mesa de presidenciáveis do ex-juiz Sergio Moro (União), a quem Ciro qualifica de “inimigo da República”. “A saída de Moro facilitou muito, estamos na expectativa da evolução das conversas”, afirma o presidente do PDT, Carlos Lupi. Mas há outros entraves. Um deles é o fato de Ciro não abrir mão da cabeça de chapa. Além disso, o pedetista tem desavenças políticas e pessoais com figuras do MDB como o ex-presidente Michel Temer e o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (CE). Vale ressaltar que as ideias de Ciro também representam um problema. O seu ideário econômico inclui propostas como taxar lucros, dividendos e grandes fortunas, acabar com o teto de gastos e recomprar ações da Petrobras, propostas que colidem com as agendas de União, PSDB e MDB. “Ele terá de convencer os líderes mais liberais de que as suas propostas respeitam o mercado e estão abertas ao debate”, diz o cientista político José Álvaro Moisés, da USP.

    OPÇÃO - Bivar: alguns políticos do União cogitam defender uma posição de vice na chapa do PDT -
    OPÇÃO – Bivar: alguns políticos do União cogitam defender uma posição de vice na chapa do PDT – (Pedro Ladeira/Folhapress/.)

    Essa será a quarta tentativa de Ciro rumo ao Palácio do Planalto (as outras foram em 1998, 2002 e 2018). Diante do histórico, o esforço do pedetista para atrair o centro é a sua última — e correta — manobra para evitar um novo fracasso em outubro. “Seu eleitorado assegura a ele um patamar que não é ruim, mas é insuficiente para fazer dele um candidato competitivo”, avalia o cientista político Cláudio Couto, da FGV. Barrado à esquerda por Lula, que já tem os apoios de PSB, PCdoB, PV e PSOL, resta-lhe a caminhada à direita, até porque a sua estratégia é mirar o lugar de Bolsonaro. Com a subida do presidente nas pesquisas, contudo, há risco de Ciro sofrer uma sangria de votos para Lula e ver sua candidatura desidratar de vez. Segundo a pesquisa BTG/FSB divulgada nesta semana, o pedetista é o candidato cujos eleitores mais são propensos a fazer “voto útil”: 61% podem mudar a escolha para evitar a vitória de quem rejeitam. Ou seja, Ciro precisa se mostrar viável o mais rápido possível. E todos os caminhos levam ao centro.

    Publicado em VEJA de 4 de maio de 2022, edição nº 2787

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