O tenente-coronel Mauro Cid foi uma das poucas pessoas que estiveram ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro depois do segundo turno das eleições de 2022. Neste período, Bolsonaro se fechou no Palácio da Alvorada, passou a receber alguns poucos aliados e decidiu jamais reconhecer publicamente a vitória de Lula.
Conforme relatou Cid, Bolsonaro tinha certeza de que ia ganhar a disputa e esteve em um luto tamanho que lhe rendeu uma erisipela – uma infecção na perna -, fruto da queda da imunidade. O então presidente costumava perguntar o que ia fazer com “o povo que está na rua”, em referência aos apoiadores que questionavam o resultado, e endossar as críticas ao desfecho. “Fui roubado, fui roubado. O PT vai destruir o Brasil”, repetia Bolsonaro.
Em meio à indignação com o resultado, Bolsonaro, segundo Cid, estava imbuído no propósito de encontrar uma fraude na eleição. Essa seria a senha para que ele pudesse pôr em prática algum tipo de contestação ao pleito.
“O presidente queria encontrar uma fraude. Isso ele realmente queria. Em cima da fraude daria para fazer alguma coisa”, afirmou o tenente-coronel, de acordo com um de seus interlocutores.
Conforme o jornal O Globo e o portal UOL, Cid disse à Polícia Federal que Bolsonaro se reuniu com os três comandantes das Forças Armadas em busca de reverter o resultado eleitoral. De acordo com as publicações, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, chegou a topar entrar em um plano golpista, mas o chefe do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, teria rechaçado qualquer intentona.
Em conversas com aliados, Cid, por outro lado, evita usar o termo golpe. Para ele, o que acontecia dentro da Presidência e do Exército era um retrato do momento e de uma sociedade polarizada. Por isso, ficava uma espécie de jogo de empurra: enquanto muitos defendiam que algo deveria ser feito, poucos eram os que tinham coragem de encabeçar qualquer tipo de movimento.
“Mas isso para virar um golpe… Os generais conversaram com o Bolsonaro e avisaram que não tinha o que fazer. Qualquer ação militar representa vinte, trinta anos de um regime autoritário. Ninguém mais quer isso, não cabe mais”, afirmou o tenente-coronel a uma pessoa próxima.
O tenente-coronel firmou um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal no dia 9 de setembro. Em depoimentos, ele já admitiu que burlou o sistema do Ministério da Saúde para emitir um certificado falso de vacinação contra a Covid-19 e que vendeu dois relógios recebidos pelo governo brasileiro e repassou o dinheiro ao ex-presidente.