O cantor, compositor e escritor Chico Buarque rebateu nesta quarta-feira, 9, por meio de um post em seu perfil no Instagram, a declaração do presidente Jair Bolsonaro de que tem até dezembro de 2026 para assinar o diploma do Prêmio Camões, concedido pelos governos de Brasil e Portugal.
“A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prêmio Camões”, afirmou Chico. A premiação é a mais importante condecoração literária em língua portuguesa. Ele foi escolhido vencedor pelo conjunto de sua obra.
Pelas regras da premiação, os governos brasileiro e português pagam cada um 100 mil euros (o que equivalente a cerca de 450 mil reais). A parcela do Brasil já foi paga em junho. A questão pendente é Bolsonaro assinar o diploma para um artista que considera desafeto político, que critica abertamente o seu governo e apoia ostensivamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – em setembro deste ano, ele visitou o petista na prisão em Curitiba e pediu a sua libertação.
“É segredo. Chico Buarque?”, disse o presidente, ao ser questionado por jornalistas na chegada ao Palácio da Alvorada. “Eu tenho prazo? Até 31 de dezembro de 2026, eu assino”, respondeu, fazendo alusão a um segundo mandato, já que o seu atual termina em dezembro de 2022.
O Prêmio Camões foi instituído em 1989 por Brasil e Portugal. De acordo com o Ministério da Cultura de Portugal, a escolha reconhece anualmente “escritor cuja obra contribua para a projeção e o reconhecimento da língua portuguesa”.
Obra
Chico Buarque, 74 anos, estreou como escritor de ficção em 1974, com a novela Fazenda Modelo. Em 1979, publicou o livro infantil Chapeuzinho Amarelo. O primeiro romance, Estorvo, foi lançado em 1991. Quatro anos depois lançou o segundo, Benjamin. Em 2003, publica Budapeste; em 2009, Leite Derramado e em 2014, O Irmão Alemão. Ele escreveu as peças de teatro Roda Viva (1968); Calabar (1972); Gota D’Água (1974), e Ópera do Malandro (1978).
O autor é o 13º brasileiro a receber o prêmio que já foi conferido, entre outros, a Raduan Nassar (2016), Ferreira Gullar (2010), Lygia Fagundes Telles (2005), e Jorge Amado (1994). A premiação foi anunciada em maio pela Biblioteca Nacional pelas redes sociais.
O júri foi formado por Manuel Frias Martins, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e presidente da Associação Portuguesa de Críticos Literários; Clara Rowland, professora associada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; Antonio Cícero, ensaísta brasileiro e poeta; Antonio Hohlfeldt, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Ana Paula Tavares, poeta angolana e professora universitária em Lisboa; e Nataniel Ngomane, professor da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane em Moçambique.