O governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro (PL) ignorou a solicitação da Câmara dos Vereadores carioca acerca de esclarecimentos sobre o telefonema que recebeu do vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), logo após a morte de Henry Borel, de 4 anos, assassinado após uma sessão de espancamentos no apartamento em que morava com o parlamentar, padrasto do menino, na madrugada de 8 de março. O prazo da resposta do mandatário expirou no fim da tarde de quarta-feira, 9. VEJA apurou que o governador, por meio de sua assessoria, pediu que o limite fosse ampliado até esta quinta, o que foi feito. Ainda assim, a resposta não chegou. Jarinho e a mãe do garotinho, Monique Medeiros, estão presos pelo crime e são réus por homicídio triplamente qualificado e tortura do menor de idade.
Castro foi notificado pelo Legislativo Municipal, onde foi vereador até 2018, no mês passado. Ao governador foi solicitado que explicasse, detalhadamente e por escrito, o que Jairinho havia lhe pedido algumas horas após a morte da criança. A resposta, no entanto, não chegou, e era fundamental para o processo de cassação de Jairinho porque apontaria o eventual uso de tráfico de influência do político preso pelo assassinato de Henry. Entretanto, o chefe de Estado não tinha obrigação legal de responder os questionamentos.
De acordo com a polícia, o vereador pediu ao governador que interferisse nas investigações sobre a morte do seu enteado.
A falta de resposta por parte do governador causou espanto aos parlamentares. “Fiquei surpreso porque o Cláudio Castro foi nosso colega aqui na Câmara e esperava que ele fosse colaborar com este processo deste caso tão complicado. A sociedade cobra uma resposta e todas as informações são importantes para chegarmos a uma conclusão bem elaborada”, disse o vereador Luiz Ramos Filho (PMN), relator do processo de cassação contra Jairinho.
Filho espera finalizar o parecer do processo nos próximos dez dias. “Justamente por ser um caso tão sensível, é necessário dar máxima celeridade. Vamos fazer o possível para concluir o processo o quanto antes”, afirmou. O relator deve concluir o parecer ao Conselho de Ética até o dia 16. Uma vez votado na comissão, será encaminhado para votação em plenário da Casa. Caso o mandato de Jairinho seja cassado por quebra de decoro, ele será o 1º parlamentar da história da Câmara do Rio a ser afastado das funções legislativas.
Em março, Castro confirmou que recebera o telefonema do vereador, mas afirmou que, na conversa, se limitou a dizer que cabia à Polícia Civil fluminense as investigações e que não iria interferir no caso. O caso foi investigado pela 16ª DP (Barra da Tijuca), que indiciou o casal pelo homicídio e tortura de Henry.
Procurado pela reportagem de VEJA por meio de sua assessoria na noite de quarta, o governador enviou uma nota por meio de sua assessoria apenas no final da tarde de sexta-feira, 11. “O governador Cláudio Castro já se manifestou sobre o telefonema que recebeu do vereador Dr. Jairinho, após a morte de Henry Borel. À época, o governador explicou, através de nota amplamente divulgada em todos os meios de comunicação e também falou em várias entrevistas, que se tratava de um caso de polícia e que a instituição teria total autonomia para fazer seu trabalho”, diz o texto.