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Carta ao Leitor: Palanque sem ideias

Candidatos apresentam discursos demagógicos, promessas vagas e platitudes sobre os mais variados assuntos, das contas públicas ao meio ambiente

Por Da Redação Atualizado em 20 Maio 2022, 14h19 - Publicado em 20 Maio 2022, 06h00

O primeiro grande debate presidencial ocorrido após o longo inverno autoritário de 21 anos do regime militar ficou marcado pela confusão memorável do encontro — e não se podia esperar algo muito melhor de um país destreinado para a democracia. Televisionado no dia 17 de julho de 1989, o evento contou com a presença de nove candidatos entre os 22 nomes que concorriam na ocasião ao Palácio do Planalto. Em um dos muitos bate-bocas que entraram para a história, Leonel Brizola (PDT) chamou Paulo Maluf (PDS) de “filhote de ditadura”, arrancando risos da plateia presente ao estúdio da Bandeirantes. No papel de mediadora, a jornalista Marília Gabriela fez o possível, mas não conseguiu aplacar os ânimos dos concorrentes. Sobraram acusações, faltaram ideias.

Passadas sete eleições presidenciais ocorridas ao longo de mais de três décadas, imaginava-se que os candidatos da atual campanha apresentassem um espetáculo diferente, em um tom muito mais maduro de debate sobre os grandes problemas nacionais (que não são poucos). Infelizmente, não é o que acontece no momento. Em boa parte do tempo, seja em entrevistas à imprensa, aparições públicas ou manifestações nas redes sociais, a maioria dos concorrentes vive à base de caneladas, esbanjando ódio uns contra os outros. Proliferam também discursos demagógicos, promessas vagas e platitudes sobre os mais variados assuntos, das contas públicas ao meio ambiente.

O problema é visível, principalmente nos dois que lideram a corrida. Na luta pela reeleição e em segundo lugar nas pesquisas, Jair Bolsonaro pede votos, entre outras sandices, acenando para o fantasma da volta do comunismo. Do lado oposto, o líder nas sondagens, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a ponto de dizer em entrevista à revista americana Time que não discute política econômica enquanto não vencer o pleito. Ou seja: quer um cheque em branco nas mãos, um pensamento tão alucinado quanto o do seu rival. Paradoxalmente, conforme mostram as mesmas pesquisas, são exatamente temas como inflação, pobreza e desemprego que estão no centro das preocupações dos eleitores.

E a razão é óbvia. Num cenário no qual o país vive uma preocupante crise econômica, com desdobramentos sociais terríveis, os candidatos precisam ser cobrados a contar o que pretendem fazer para criar um futuro melhor. A falta de ideias consistentes para questões como desigualdade social e educação, aliás, está entre os motivos do nosso fracasso como país até aqui. É preciso elevar o nível da discussão e sair da dinâmica dos ataques desequilibrados, como se os lados envolvidos fossem fanáticos torcedores de futebol. Nós temos de debater, na verdade, o que deve ser feito para melhorar a vida das pessoas nas mais diversas áreas. Cheio de desafios pela frente, o Brasil precisa urgentemente de soluções racionais e bem planejadas — e de menos patacoadas, como aquelas que marcaram o histórico encontro de 1989.

Publicado em VEJA de 25 de maio de 2022, edição nº 2790

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