Nos salões dos Jardins e Pirituba, os mesmos anseios passam pela cabeça
Nesses bairros, Amoêdo (Novo) e Bolsonaro (PSL) foram os mais citados pelas eleitoras ouvidas por VEJA
Recém-saída da aula de pintura em louças, Teresa Moura, 61 anos, dedicou o fim de tarde da terça-feira 5 a um momento de mimos no MG Hair, salão estrelado de Marco Antonio de Biaggi, no coração do Jardim Paulista. Fez escova, as unhas das mãos, subiu ao spa no 2º andar para uma sessão de shiatsu e desembolsou cerca de 600 reais. Entre as atividades, sentada na cadeira de onde acabara de sair Adriane Galisteu, a mulher do dono das baterias Moura falou de sua expectativa sobre as eleições deste ano. “Quem entrar precisa resolver a educação. Não sei como uma pessoa consegue dormir sabendo que roubou merenda escolar das crianças”, afirmou. Ainda sem muita certeza, ela pretende votar em João Amoêdo (Novo). “Ou em Alckmin (PSDB), se ele concorrer.”
A 13 quilômetros dali, Milton Moura — sem parentesco com a cliente de Biaggi — recebia no dia seguinte a clientela em seu recém-inaugurado estabelecimento, localizado no Jardim Santo Elias, na região de Pirituba. É o terceiro endereço do império que ele construiu após chegar da Bahia, há quase quarenta anos, com pouco além de disposição para trabalhar e vontade de vencer na vida. Aos 63, mantém o salão mais chique do pedaço, com dois andares e 500 metros quadrados, inaugurado com investimento de 600.000 reais. Tem entre as clientes conhecidas Milene Pavorô, do Programa do Ratinho, e a ex-PaniCat Babi Rossi. “Não é que o povo não sabe votar. Os candidatos é que não prestam”, comentou o empresário.
VEJA visitou os dois salões, ambos considerados os principais de seu respectivo “Jardim”, para tentar levantar semelhanças e diferenças entre as expectativas da clientela para as eleições deste ano. Será que a perspectiva de alguém que paga 390 reais por um corte de cabelo difere muito da de quem desembolsa 65 reais? Os candidatos que fazem a cabeça de uma pintariam no radar de intenções da outra?
Diferenças de bolso à parte, as respostas foram bem próximas. A maioria anseia por renovação, mas aqui ela transborda dos “looks” para as intenções de voto. Além disso, ninguém cogita votar em candidatos de esquerda.
Porém, não sem a indecisão. “Votei no Lula (PT), no Aécio, no Doria (ambos do PSDB)… Esse eu achei que ia transformar São Paulo! Todos foram uma decepção”, diz a vendedora Sandra Persona, 52 anos, moradora de Pirituba desde que nasceu “dentro de casa, com parteira”, que considera optar pelo nulo nas urnas “como protesto”.
“Acho que a gente está sem opções. De tudo que tem aí, acho que ele parece ser o que mais representa renovação”, disse a representante comercial Vanilda Varella, 47 anos, sobre seu candidato, Amoêdo, enquanto fazia as unhas no MG Hair. Ela se diz contra radicalismos, referindo-se a Jair Bolsonaro (PSL). “Morro de medo daquele homem.” Desesperançosa com os rumos do país, ela não consegue apontar apenas uma área que mereça atenção mais urgente.
“Eu, com certeza, apontaria a saúde”, afirmou Maria Gonçalves, manicure que a atendia no momento. Aos 32 anos, mãe de uma menina de 11, ela teve um aborto espontâneo, que quase lhe custou a vida, porque foi a um hospital público, e a médica minimizou a gravidade de seu caso. “Voltei horas mais tarde e fui internada na mesma hora”, lembrou. Estava ainda de cama justamente nas eleições de 2014, por isso não votou. Ela não decidiu em quem apostar neste ano, no entanto.
Grávida pela terceira vez, Caroline Nicoletta, de 27 anos, também sonha com melhorias no SUS. “Pago 1400 reais mensais de plano de saúde para mim e para eles”, contou, referindo-se aos mais velhos, Pedro, de 7 anos, e Enzo, de 3, clientes do Moura. Ela, que em outras eleições já foi de PT e PSDB, ainda não escolheu um candidato em 2018.
O assunto considerado mais urgente pelas entrevistadas, porém, foi a educação. A publicitária Maíra Holtz, 38 anos, dona de uma agência, pretende votar em João Doria para governador e em Bolsonaro para presidente. “Vou muito pela simpatia e pela energia do candidato”, disse, enquanto se preparava para um corte no salão de Biaggi. “Morei nos Estados Unidos e vi que lá a qualidade da educação faz você aplicar os conhecimentos. Aqui, faz apenas decorar.”
Em Pirituba, a vendedora Simone Oliveira, 40 anos, defende a ideia de que privatizar o ensino médio seria uma saída interessante, desde que houvesse cotas para alunos que não pudessem pagar. “A pessoa faria uma prova para conseguir essa vaga. Isso faria com que os jovens se motivassem a correr atrás.” Ela, no entanto, não encontrou ainda quem poderia representar essa pauta nas eleições presidenciais.
E o que elas pensam sobre as pautas ligadas à mulher? Liberação do aborto, por exemplo. Após respirar fundo (todas fizeram isso ao ouvir falar do tema), as mulheres se disseram solidárias, mas fizeram ressalvas. “Acredito que pode liberado em algumas ocasiões, como casos de estupro ou se a criança vai vir com doença grave. Senão vai ser tão fácil. Do jeito que está a cultura brasileira, não estamos preparados para isso”, disse Regina França, 31 anos, cabeleireira do MG Hair e que sempre votou com o PSDB. Para este pleito, ainda não definiu o voto.
Ela tem arrepios ao ouvir falar em ditadura ou intervenção militar, reação oposta à da empresária Sandra Gonzalez, 48, no Jardim Santo Elias. “Queria alguém que botasse ordem na bagunça que virou o Brasil, e talvez fizesse sentido que os militares assumissem por um tempo, só para arrumar tudo”, disse ela — mulher, filha e irmã de militares —, que vai votar em Bolsonaro.
Enquanto circulava pelo MG, a reportagem encontrou uma eleitora que integra o diminuto grupo de pessoas que aprovam o atual presidente, Michel Temer — reprovado por 70% dos brasileiros, segundo pesquisa divulgada em abril pelo Datafolha. “Não desgosto dele. País tem que ter presidente que passe uma boa imagem. Sou a favor das reformas. Acredito que valha a pena”, diz a publicitária e estudante Ângela Saraiva, 36 anos, moradora de Higienópolis.
“Corrupção existe em todos os países. A população precisa se conscientizar de que vão subir os impostos mesmo. Governo e sociedade têm que entrar num acordo e apertar o cinto. E é para o bem do país”, diz ela, que pretende escolher um candidato da direita, mas ainda não sabe qual.