“E a segurança por aqui, como é que está?”, perguntou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, para a aposentada Dalva Barbara, de 75 anos, enquanto esperava os alunos do Senai converter a TV dela para o sinal digital.
Dalva mora no bairro de Água Branca, na periferia de Santos, no litoral paulista, e abriu as portas de casa para Skaf no dia 28 de outubro, quando ele esteve no bairro cumprindo agenda pela entidade. O presidente da Fiesp é o nome mais cotado no PMDB para disputar o governo de São Paulo nas eleições do ano que vem.
Nesse dia, Skaf percorreu as ruas do bairro santista acompanhado de alunos do Senai – entidade ligada à Fiesp –, assessores e uma equipe de filmagem que registrava cada movimento do potencial candidato ao governo. Durante a caminhada, que durou cerca de duas horas, o peemedebista visitou três casas, onde acompanhava a equipe instalar os equipamentos para os moradores de Água Branca.
A reportagem conversou com todos eles logo depois da visita do presidente da Fiesp. E todos prometeram votar no peemedebista em 2018 se ele for candidato – inclusive Dalva, que já nem tem obrigação de votar por ter mais de 70 anos. “Não foi só porque ele veio aqui em casa consertar nossa TV, não. É pelo trabalho dele como um todo, ajudando os pobres. Aqui em casa somos em três: eu, minha filha e minha neta. Todo mundo vai votar nele”, disse a aposentada, ainda maravilhada com a melhora da qualidade da imagem da televisão de 20 polegadas. “Agora está parecendo cinema”.
A dona de casa Vera Lucia Tadeu Marques, de 63 anos, também recebeu Skaf em casa. Questionada se reconhecia o presidente da Fiesp, Vera Lucia respondeu: “Sim, vejo ele direto na televisão”. Disse se lembrar da figura do peemedebista não só das peças publicitárias da federação, veiculadas na TV, mas também do horário eleitoral. Skaf disputou o governo do Estado em 2014, quando terminou a eleição em segundo lugar, com 4,5 milhões de votos. “Até então, estava sem candidato. Mas, pelo trabalho que ele tem mostrado, pela preocupação que ele tem mostrado em ajudar, agora estou pensando em votar nele”, afirmou a dona de casa, que disse estar frustrada com o cenário político atual.
De Santos, Skaf partiu para Cubatão, onde inaugurou um ginásio, um campo de futebol e uma sala de lutas dentro das dependências do Sesi. O local estava cheio de crianças, jovens e adultos, que se esbanjavam com algodão doce e pipoca distribuídos de graça. No evento tinha ainda pula-pula e uma série de atividades oferecidas gratuitamente, como aula de dança para os mais velhos.
Quando chegou ao Sesi, Skaf visitou as instalações, sempre com a equipe de filmagem no encalço. Depois disso, se dirigiu até o palco montado no ginásio, parando diversas vezes no meio do caminho para posar para selfies com o público. Não discursou, apenas tirou fotos com prefeitos da região, após assinar protocolos de renovação do Programa Atletas do Futuro com esses municípios.
O único que discursou foi o prefeito de Cubatão, Ademário da Silva Oliveira (PSDB), que enalteceu a parceria com a Fiesp e falou do “isolamento da prefeitura”. “A prefeitura aqui sofre um isolamento. Mas a parceria com a Fiesp é grande. É isso o que importa. Aqui em Cubatão não se governa para partido”, afirmou. Quando o tucano terminou de falar, o palco foi ocupado pelo cover da banda irlandesa U2.
Skaf nega que esteja usando a Fiesp para fazer campanha com foco em 2018. “O trabalho de Skaf à frente das instituições é diário e constante. Ele se destina a representar os interesses dos setores produtivos do Estado de São Paulo, oferecer educação de qualidade, cultura e esporte por meio do Sesi, dar formação técnica de classe mundial por meio do Senai, estimular o empreendedorismo por meio do Sebrae e não guarda relação com questões eleitorais ou partidárias”, diz a nota enviada pela Fiesp.
Pelo calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), eventos de campanha só estão liberados a partir de agosto do ano que vem. Antes disso, a legislação veta expressamente o pedido explícito de votos.
Agenda cheia
Esse não é o primeiro evento que Skaf realiza nesses moldes. De maio a novembro deste ano, o presidente da Fiesp participou de 22 agendas semelhantes às descritas pela reportagem. Em seis delas, o evento contou com shows de artistas famosos, como Daniel, Alceu Valença e Elba Ramalho. VEJA apurou que Daniel, por exemplo, chega a cobrar até R$ 200 mil de cachê. Durante esse período, o cantor sertanejo realizou quatro shows em eventos da federação: em Vinhedo, no dia 5 de agosto; em Birigui, no dia 19 de agosto; em Porto Ferreira, no dia 2 de setembro, e em Botucatu, no dia 16 de setembro. Ao todo, a federação teria gasto cerca de R$ 800 mil para pagar as apresentações do cantor.
A Fiesp, o Sesi e o Senai são entidades financiadas parcialmente pelo imposto sindical patronal. Questionada sobre quanto as apresentações custaram, a instituição não respondeu. Em nota, informou apenas que Skaf não participa de todos os eventos, mas “só quando pode”. “Ao longo de 2017, a Fiesp e o Sesi-SP realizaram mais de 1.700 eventos culturais. Foram espetáculos teatrais, exposições de arte, shows musicais e apresentações da Orquestra Bachiana Sesi-SP. Todos gratuitos. Paulo Skaf não participa da imensa maioria dos eventos realizados pelas instituições que dirige, mas os prestigia quando pode”, diz o texto.
A assessoria do cantor Daniel também não informou qual foi o cachê pago pela Fiesp. “Os valores de contratos são confidenciais. Daniel tem um relacionamento profissional com Paulo Skaf, tendo o conhecido em bastidores de eventos e show”, diz a nota enviada pela assessoria do cantor.
A reportagem também perguntou para a Fiesp os gastos que a entidade teve com publicidade de janeiro de 2016 até outubro de 2017. A instituição, no entanto, não forneceu as informações. “As campanhas da Fiesp são financiadas com recursos próprios, sendo resultado de decisões de sua diretoria e Conselho de Representantes”, diz a nota. “Graças a elas, mobilizamos a opinião pública e evitamos, por exemplo, decisões relativas ao aumento de impostos, da conta de energia, entre outras, contrárias aos interesses dos setores produtivos e da sociedade.”