Campanha de Lula intensificará o assédio aos eleitores de Ciro Gomes
Votos do ex-ministro são considerados estratégicos para impedir uma virada de Jair Bolsonaro e garantir a formação de uma grande bancada do PT na Câmara
Integrantes da campanha de Lula (PT) evitam defender publicamente que os eleitores do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) optem pelo chamado voto útil e migrem para o petista já no primeiro turno, como forma de aumentar as chances de o ex-presidente derrotar Jair Bolsonaro (PL). Nos bastidores, no entanto, Lula e seus auxiliares pretendem reforçar a ofensiva destinada a conquistar os votos hoje prometidos a Ciro, cuja candidatura está sendo desidratada pela ação petista, como conta a reportagem de capa da nova edição de VEJA.
De acordo com a mais recente pesquisa Datafolha, Lula tem 47% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro e Ciro marcam, respectivamente, 29% e 8%. Nessa simulação, o ex-presidente alcança 52% dos votos válidos, o que lhe daria a vitória no primeiro turno, ainda que por uma margem muito apertada. Caso os votos de Ciro migrem de forma majoritária para Lula, uma decisão em turno único a favor do petista passaria da condição de possível para a de bastante provável. “Muita gente faz voto útil. Se o Ciro sofrer derretimento na reta final, a possibilidade de uma eleição resolvida no primeiro turno aumenta muito”, afirma o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas.
O PT não sonha apenas com a vitória no primeiro turno. Se conseguir abocanhar parte dos eleitores de Ciro Gomes, Lula chegará a eventual segundo turno com uma vantagem ampla sobre Bolsonaro, o que reduziria a chance de uma virada e, alegam os petistas, a margem para o presidente colocar sob suspeita o resultado da votação. A lógica é a seguinte: quanto mais apertado for o placar, maior será contestação por parte do ex-capitão.
Caso a ofensiva pelo voto útil dê certo, o PT deve lucrar também na eleição para a Câmara dos Deputados, que é considerada prioritária por Lula. Se eleito, o petista quer colocar um aliado no comando da Casa. Para que isso ocorra, o partido precisará de uma bancada com força suficiente para desafiar Arthur Lira, atual ocupante do posto, prócer do Centrão e senhor do destino de boa parte das chamadas emendas de relator, que se tornaram uma moeda de troca decisiva nas eleições para a cúpula da Câmara.