Candidato derrotado a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, o general Walter Braga Netto será chamado a prestar esclarecimentos à Polícia Federal sobre a extensão de sua participação em enredos de cunho golpista. A informação foi confirmada a VEJA por fontes da corporação.
O depoimento do militar, ainda sem data marcada, tem como pano de fundo o acordo de colaboração premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que, diante dos policiais, foi questionado sobre o papel do militar no endosso a manifestantes que se aglomeraram diante de quarteis do Exército com pedidos de uma intervenção militar que proporcionasse a virada de mesa nas eleições.
Nos três dias de depoimentos que já prestou à PF, Cid não imputou a Braga Netto atitudes antidemocráticas nem atos de incitação à tomada de poder, resumindo as menções a ele, conforme revelou VEJA no mês passado, a declarações como “nunca vi o general Braga Netto levando nada ao presidente, nenhuma proposta, nada”.
Desde que o filho começou a ser inquirido no acordo de colaboração, o pai do ex-ajudante de ordens, o general Mauro Lourena Cid, telefonou pessoalmente a integrantes da caserna para negar que a cúpula militar – Braga Netto à frente – houvesse sido delatada. A blindagem de Cid nos depoimentos, no entanto, não convenceu a polícia, que agora quer ouvir o que o próprio Braga Netto tem a dizer.
Em casos sensíveis como este, fontes da corporação trabalham, por exemplo, com a hipótese de Lourena Cid ter usado um despiste para não comprometer a delação do filho ou ainda com o fato de que elementos colhidos fora do âmbito da colaboração premiada já tenham trazido o ex-candidato a vice de Bolsonaro para o centro da trama criminosa.
Investigadores têm em mente a tese de que havia um projeto estruturado de Jair Bolsonaro e auxiliares para a perpetuação no poder, com a criação de uma estrutura para desviar bens públicos valiosos, como as joias ofertadas ao Estado brasileiro, aparelhar forças de segurança, como a Polícia Rodoviária Federal, em benefício próprio, partir para cima da credibilidade das urnas eletrônicas e da diplomação do presidente Lula e, no ato final, usar de violência e destruição contra as sedes dos três poderes da República em 8 de janeiro. É neste quebra-cabeças que Braga Netto será intimado a depor.
O jornal O Globo e o portal UOL informaram que Mauro Cid relatou à Polícia Federal que Bolsonaro se reuniu com os três comandantes das Forças Armadas no intuito de reverter o resultado eleitoral e que o então mandatário teria sido apoiado no intento pelo comandante da Marinha na época, Almir Garnier. Braga Netto afirma que não estava presente nesta reunião, mas pode esclarecer este e outros episódios que mostram a temperatura política no meio militar quando o assunto era trama golpista.