O presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, se apresenta como um dos representantes da ‘extrema esquerda’ no Brasil. O grupo dele foi expulso do PT em 1990 por discordar das alianças da legenda com partidos de centro. Rui, que já foi candidato à presidência da República por três vezes, é um crítico de Lula, do PT e do Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente, segundo ele, pela perseguição política que a instituição vem promovendo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e os manifestantes do dia 8 de janeiro. O PCO, que se define como uma legenda comunista, não recebe fundo partidário e, na última eleição, teve suas redes sociais bloqueadas por determinação do ministro Alexandre de Moraes.
O Partido da Causa Operária apoia o governo Lula? Não apoiamos o governo de uma forma geral, nós apoiamos aquilo que a gente acha que o governo está fazendo corretamente. Fizemos várias críticas, mas nós temos uma conduta amigável em relação ao governo. Não temos cargos no governo Lula, não pleiteamos nenhum cargo no governo.
Radicais de direita defendiam o fechamento do STF. O senhor tem a mesma opinião? Nós sofremos um ato de arbitrariedade muito grande do ministro Alexandre de Moraes, que mandou suspender as nossas redes sociais no ano passado, um pouco antes da eleição. Alegaram que nós apresentamos a proposta de dissolução do STF, apesar de que nós sempre explicamos que não éramos favoráveis a uma dissolução violenta. É um debate constitucional. Não somos favoráveis a golpe de Estado, fechar o STF à força, mas não achamos que deveria existir esse tribunal.
Por quê? Quando você tem um tribunal constitucional, a Constituição ganha um dono, o tribunal é dono da Constituição. Na nossa opinião, quem tem que fazer a lei é o Congresso Nacional. Com todos os defeitos que o Congresso Nacional possa ter, você pode lutar para mudar o Congresso, é ele que é a casa de leis. Os ministros do STF nem são eleitos e têm todo este poder, um poder superior ao do Congresso.
Como o senhor avalia os inquéritos do ministro Moraes para investigar o ex-presidente Jair Bolsonaro? Eu acho que tudo isso aí é político. Não acho que é a melhor maneira de tratar o movimento de extrema direita ou ultraconservador. A perseguição judicial não é o caminho. Veja o que está acontecendo nos Estados Unidos: o ex-presidente Donald Trump tem um processo atrás do outro, um processo político, é visível, e a popularidade dele só cresce.
O dia 8 de janeiro foi o quê? Acho que o Bolsonaro acalentou essa ideia de golpe durante todo o seu governo, mas eu não acho que houve nenhuma tentativa real. É um grande exagero falar que o 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe de Estado. Eu não acho que o pessoal que foi lá realmente estava organizando um golpe. Se estivesse, seria o golpe mais mal organizado da história. Foi uma baderna. É como aconteceu nos Estados Unidos, no Capitólio, uma baderna. Eu acho que a perseguição judicial contra esse pessoal é muito exagerada e indevida. Aquele pessoal é gente comum, simples. Umas 400 pessoas que foram indiciadas não têm dinheiro para pagar um advogado. Por que você vai perseguir essa gente?
O presidente Lula diz que ‘vai aparecer coisa do Bolsonaro’. Acho que é um erro político. O Lula deveria combater o Bolsonaro em torno de questões políticas. E há muitas políticas para ele combater o Bolsonaro. O Lula precisaria ganhar uma parte da base bolsonarista, ele tem que ganhar na política governamental e do ponto de vista ideológico. Se fala muito que ‘Bolsonaro falsificou a carteirinha de vacinação, por isso ele tem que ser proibido de participar da eleição’. Ninguém leva isso a sério. Nem esse negócio das joias…
O senhor também critica a decisão que tornou Bolsonaro inelegível. Por quê? Eu acho que a decisão foi totalmente irregular. Ele foi condenado por aquela espécie de coletiva de imprensa que fez com embaixadores antes da eleição. O presidente da República tem o direito de convocar o pessoal. O pessoal vai se quiser, ele não obrigou ninguém a estar lá, a imprensa foi, os embaixadores foram, ele disse a opinião dele. É um absurdo caracterizar isso como crime. É um debate político.