Bolsonaro insiste na transferência total da embaixada para Jerusalém
Presidente diz que palestinos têm 'direito de reagir', ao comentar sobre decisão de Ramalah de convocar embaixador no Brasil
O presidente Jair Bolsonaro reafirmou nesta segunda-feira, 1, sua intenção de transferir integralmente a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e disse que a “autonomia” do Brasil para definir onde instalar sua representação diplomática deve ser respeitada.
Sua manifestação deu-se depois da reação contundente da Autoridade Palestina à decisão de Bolsonaro, expressa no domingo, de mudar parte da embaixada para Jerusalém, com a instalação na cidade sagrada de um escritório para o comércio, a ciência e tecnologia e a inovação na cidade sagrada.
A iniciativa foi recebida pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, como um “primeiro passo” para a definitiva transferência. O anúncio terá repercussão nas eleições de 9 de abril, nas quais ele disputa um novo mandato.
“Se eu fosse abrir negociações com Israel agora, eu botaria a embaixada onde? Seria em Jerusalém”, afirmou. “Eu não quero ofender ninguém. Agora, eu quero que respeitem a nossa autonomia”, disse. “Eu tenho um compromisso, mas meu mandato vai até 2022. A gente tem que fazer as coisas devagar, com calma.”
Questionado sobre a decisão da Palestina de convocar seu embaixador no Brasil após o anúncio da abertura de um novo escritório em Jerusalém, Bolsonaro afirmou ser “direito deles reclamar”. No domingo, o chanceler da Autoridade Palestina, Riad Malki, declarou que a decisão brasileira é uma “violação flagrante” contra os direitos dos palestinos.
“(A abertura da representação) é uma violação flagrante ao povo palestino e seus direitos, bem como uma aprovação à pressão americana e israelense”, afirmou Malki, segundo a agência palestina de notícias Wafa.
Malki disse que a medida tem como objetivo “perpetuar a ocupação, as atividades de assentamentos e a anexação da parte ocupada de Jerusalém”, além de “impor à força” a lei israelense na região.
A transferência da embaixada brasileira foi uma promessa de campanha de Bolsonaro, claramente destinada a agradar o eleitorado e seus aliados evangélicos. Uma vez empossado, ele reiterou seu objetivo de cumpri-la. Mas houve resistências dentro do próprio governo.
A ala econômica chamou a atenção para retaliações econômico-comerciais de países muçulmanos e de aliados da causa palestina, que se materializaram nas barreiras sanitárias impostas pela Arábia Saudita sobre as importações de carne de aves do Brasil. Os ministros militares e o próprio vice-presidente Hamilton Mourão chamaram a atenção para a possível ação de extremistas islâmicos no Brasil, como represália.