Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

‘Bolsonaro é uma ameaça’, diz autor de ‘Como as Democracias Morrem’

Para o cientista político Steven Levitsky, as instituições ainda mantêm o presidente sob controle

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 dez 2019, 10h40 - Publicado em 6 dez 2019, 06h00

Segundo o cientista político Steven Levitsky, um dos autores do livro Como as Democracias Morrem, o presidente é um político autoritário, mas as instituições ainda o mantêm sob controle.

Como avalia o presidente? Ele é uma ameaça à democracia. Já declarou diversas vezes que prefere alternativas autoritárias e apoia algumas violações de direitos básicos. Então, ele é um político autoritário. Mas é um presidente autoritário? Não ainda. Isso se dá porque as instituições no Brasil são razoavelmente fortes e até agora o mantiveram sob controle. Outra coisa: sua taxa de aprovação é de 30%. Líderes autoritários como Hugo Chávez (Venezuela) e Rodrigo Duterte (Filipinas) chegaram a ter 70% de apoio. Se Bolsonaro tivesse a habilidade política de Viktor Orbán (Hungria) ou de Recep Erdogan (Turquia), a democracia brasileira poderia estar em risco.

Por que políticos autoritários têm sido eleitos no mundo? Há casos relevantes, como nos Estados Unidos, Brasil, Turquia, Filipinas e talvez Índia. Mas os autoritários sempre estiveram por aqui. O que parece ocorrer agora é uma tendência crescente de vitória eleitoral de outsiders populistas, dos quais muitos são extremistas. Na minha visão, essa situação reflete a crise do establishment, que é a coleção de agentes com recursos necessários para alguém ser eleito. Isso inclui os partidos, responsáveis pelas principais nomeações; o controle da mídia, responsável por dar acesso aos eleitores; e os grupos de interesse, que cuidam das finanças e do ativismo. Com as novas tecnologias, os populistas podem alcançar mais eleitores do que a mídia tradicional, como fez Bolsonaro; e, por doações on-line, podem levantar até mais dinheiro do que candidatos apoiados pelo empresariado.

O senhor defende a tese de que as democracias hoje são postas em risco pelas vias institucionais no chamado constitutional hardball. Pode explicar melhor esse conceito? Em épocas anteriores, os ditadores simplesmente jogavam fora a Constituição e trancavam ou exilavam seus oponentes. Hoje, é bem mais complicado fazer isso. O constitutional hardball é uma maneira sutil de abusar do poder. É usar a letra da lei para violar o próprio espírito da lei. Na América Latina, onde há muita corrupção, uma tendência preocupante são os esforços para prender políticos rivais por acusações de corrupção. Essa é uma questão complexa, já que em boa parte eles realmente são corruptos. Mas, quando um lado é alvo da lei e o outro não é, temos um constitutional hardball.

Continua após a publicidade

A democratização no mundo levou ao surgimento de líderes antidemocráticos? Todas as democracias são vulneráveis a demagogos que enfraquecem a democracia. Como ela demanda uma eleição aberta e incerta, quaisquer pessoas — até os bandidos — podem vencer.

Existe algum remédio? Não há fórmula mágica nem remédio institucional todo-poderoso. As democracias dependem, em último caso, do comportamento de suas elites. As elites políticas devem defender a democracia sob todas as circunstâncias, mesmo durante crises e quando políticos ou partidos que elas desprezam chegam ao poder.

Publicado em VEJA de 11 de dezembro de 2019, edição nº 2664

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.