Bolsonaro apela para a chantagem, mas os números trazem má notícia para a família
Ou... o falso trunfo da família do ex-presidente que não deve reacender debate pela anistia
As movimentações dos últimos dias mostram que a recente pré-campanha de Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro e filho mais velho de Jair Bolsonaro, nasceu mais como sinal de fragilidade do que de força. Em vez de unir a direita, abriu espaço para que alguns dos principais líderes desse campo expusessem, em público, suas dúvidas sobre a viabilidade eleitoral do escolhido da família.Ciro Nogueira, senador pelo PP do Piauí e ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, afirmou que a escolha do candidato não pode ser uma decisão apenas do PL, partido comandado pela família. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e um dos nomes mais fortes do campo conservador, reiterou a lealdade ao ex-presidente, mas tratou de citar outros possíveis candidatos competitivos, como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema e o governador do Paraná, Ratinho Junior. Ou seja, não fechou totalmente questão em torno de Flávio.
No centro desse ruído está uma espécie de chantagem política. Em sua primeira agenda pública após o lançamento da pré-campanha, Flávio declarou que “tem um preço” para desistir da corrida ao Planalto e admitiu que pode não ir até o fim. Questionado se esse “preço” estaria ligado à votação da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro (e obviamente ao seu pai), respondeu com ironia que o questionamento estava “quente”, sem afastar a ligação entre os dois temas.
A mensagem que se tenta vender é simples: a candidatura do filho primogênito seria uma ficha alta na mesa, capaz de pressionar o Congresso a votar a anistia. “Minha candidatura não está à venda. A condição para isso é Bolsonaro livre e nas urnas”, afirmou depois para Thaísa Oliveira. Se o parlamento aliviar a situaçãodo bolsonarismo, Flávio poderia recuar. Na prática, o que se desenha é o uso de uma pré-campanha presidencial como instrumento de negociação inconstitucional, já que o Supremo não deve aceitar a anistia ao ex-presidente.
Outro problema acontece quando se olham os número. A pesquisa Datafolha mais recente mostra que Flávio está bem atrás do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em simulações de segundo turno. O senador aparece com 36% das intenções de voto, contra 51% de Lula, e ainda recuou em relação ao levantamento anterior, em que a diferença era menor. Enquanto Flávio patina, Lula se distancia.
Outros nomes da própria direita aparecem em situação mais confortável. Tarcísio de Freitas e Ratinho Junior ficam a apenas cinco ou seis pontos de Lula em cenários de segundo turno. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro surge numericamente à frente de Flávio, com 39% contra 50% do presidente. Em outra pergunta do mesmo levantamento, apenas 8% dos entrevistados acham que o filho mais velho deveria ser o escolhido por Jair Bolsonaro para representar o campo conservador em 2026.
Ou seja, o “ativo” que o bolsonarismo tenta usar para pressionar o Congresso é, na verdade, um nome frágil, com pouco apelo popular e rejeição relevante. A própria base política em torno de Bolsonaro enxerga alternativas mais competitivas e não esconde a preferência por elas. Isso explica o incômodo de figuras como Ciro Nogueira e a cautela calculada de Tarcísio de Freitas.
Ao tentar transformar essa pré-candidatura em moeda para aprovar uma anistia ampla, o bolsonarismo age como se ainda tivesse as cartas mais fortes do jogo. Mas hoje a mesa mostra outra coisa. A família tenta preservar o controle sobre a direita, enquanto parte da direita busca um nome que possa, de fato, enfrentar Lula com chances reais.
Num cenário assim, o Congresso também recebe um recado: não há motivo objetivo para se sentir chantageado por uma candidatura que ainda não convenceu nem o próprio campo que pretende liderar. Flávio Bolsonaro quer usar o Planalto como escada para a anistia. Os números indicam que, por enquanto, falta degrau.
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