Os presidentes da República, Lula, e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não são próximos, estão em campos políticos diferentes e foram adversários na eleição de 2022, já que o deputado apoiou a fracassada tentativa de reeleição de Jair Bolsonaro. Na campanha, o petista chegou a dizer que Lira agia como “imperador do Japão”, referindo-se à força que ele demonstrava no governo do capitão.
Como são pragmáticos e conhecem o poder de seus respectivos cargos, os dois resolverem estabelecer uma relação de parceria, que foi facilitada pelo apoio de Lula e do PT à recondução de Lira, em fevereiro de 2023, ao comando da Câmara. Desde então, aos trancos e barrancos, a parceria avançou e rendeu frutos a ambos os lados.
Mesmo com a esquerda em minoria no Congresso, o governo conseguiu aprovar a sua pauta prioritária. Já Lira, além de ganhar prestígio na elite financeira e empresarial ao capitanear a votação da agenda econômica, obteve para seu grupo político, o Centrão, o controle de verbas orçamentárias e de cargos. O deputado não levou tudo o que pediu, mas Lula foi obrigado a entregar mais do que queria.
Cabo de guerra
No início deste ano, Lula e Lira renovaram os votos. O presidente da República prometeu não trabalhar contra o nome escolhido pelo deputado para sucedê-lo na Câmara a partir de fevereiro de 2025. E Lira, em contrapartida, assumiu o compromisso de só apoiar quem não seja vetado por Lula. Um rompimento entre eles, portanto, seria o prenúncio de uma disputa que ambos querem evitar, por medo de saírem derrotados.
Há outros pontos importantes em jogo. Quando deixar o comando da Câmara, Lira quer ser ministro, segundo seus aliados, ou, com ou sem cargo, preservar suas áreas de influência no governo, o que só será possível se não estiver rompido com Lula. Já o presidente depende do deputado para não correr riscos desnecessários na Câmara, onde a direita é maioria, e os bolsonaristas fazem o que podem para desgastar a gestão petista.
Foi para afastar ruídos que Lula ordenou que seus subordinados resolvessem o problema criado pela demissão de um primo de Lira da superintendência do Incra em Alagoas. O chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o líder do governo na Câmara, José Guimarães, conversaram pessoalmente com o deputado sobre o tema. Já o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, assegurou que caberá a Lira a nomeação do substituto do primo demitido.
A relação entre Lula e Lira é tensa desde sempre. Um não confia no outro. Paciência. Em razão de suas conveniências políticas e projetos pessoais, eles são praticamente obrigados a caminharem juntos.