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Bebianno vai à Justiça contra Bolsonaro por declaração sobre atentado

Em entrevista a VEJA, o presidente afirmou que um ex-assessor estaria envolvido na facada que ele sofreu durante a campanha

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 dez 2019, 14h43 - Publicado em 23 dez 2019, 11h30

O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno vai interpelar judicialmente o presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira, 23. Na ação, Bebianno pedirá que Bolsonaro confirme as declarações dadas em entrevista a VEJA de que um ex-assessor dele teve envolvimento no atentado a faca contra o então candidato do PSL, na campanha presidencial de 2018.

O presidente não revelou a quem se referiu, mas, ao longo da entrevista, forneceu detalhes que apontam para o ex-ministro. Bolsonaro afirma que o ex-assessor em questão “detonava todas as pessoas” cotadas para serem candidatas a vice-presidente. Em outras declarações do presidente e de seus filhos, Bebianno, presidente do PSL durante a campanha, já foi citado como alguém que atuou para “queimar” indicados a vice, a exemplo do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).

O motivo da traição seria justamente uma vingança por ele não ter escolhido o ex-assessor como candidato a vice.

“O meu sentimento é que esse atentado teve a mão de 70% da esquerda, 20% de quem estava do meu lado e 10% de outros interesses. Tinha uma pessoa do meu lado que queria ser vice. O cara detonava todas as pessoas com quem eu conversava. Liguei para convidar o Mourão às 5 da manhã do dia em que terminava o prazo de inscrição. Se ele não tivesse atendido, o vice seria essa pessoa. Depois disso, eu passei a valer alguns milhões deitado”, disse Jair Bolsonaro.

Bebianno classifica a declaração do presidente como “loucura”. “Isso é uma loucura. Não faz o menor sentido. A troco de que eu dedicaria quase dois anos da minha vida para ajudar a eleger o presidente, e depois fazer isso? Isso é uma loucura. Nunca houve qualquer cogitação no sentido de eu ser o vice. Isso nunca existiu”, diz.

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Após a publicação da entrevista por VEJA, a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP), convidada a ser vice de Bolsonaro em 2018, relatou no Twitter que Bebianno insistiu para que ela assumisse a candidatura até horas antes de o general Hamilton Mourão ser escolhido e anunciado como companheiro de chapa do presidente.

“No dia em que o General Mourão foi convidado para ser vice, bem no início da manhã, talvez antes das 6, Bebbiano [sic.] me ligou, insistindo que eu fosse conversar, novamente, com o Presidente. Na véspera do telefonema, eu havia falado com o Presidente e estava tudo certo que o Príncipe [Orleans e Bragança] seria o vice. No telefonema, Bebbiano não me explicou as razões, mas disse que tudo havia mudado e que eu precisaria ir ao encontro do Presidente, não lembro se no aeroporto, ou hotel. Lembro bem que eu disse que não era criança, que já havia anunciado que não seria vice e que, às 5/6 da manhã, eu nem tinha como consultar minha família novamente. Não conheço o todo da história. Mas me sinto na obrigação de relatar a parte que conheço”, escreveu Janaína. 

Depois do episódio em novembro, no qual Bolsonaro disse a Orleans e Bragança que ele deveria ter sido seu vice, e não Mourão, Gustavo Bebianno foi acusado pelo deputado de ter produzido um dossiê que inviabilizou sua candidatura. Em um vídeo, no entanto, Bebianno afirmou que foi Bolsonaro quem o procurou na véspera da decisão sobre o vice, citando um suposto dossiê com fotos de Orleans e Bragança em uma “suruba gay” e agredindo moradores de rua. Segundo o ex-ministro, foi neste momento que o presidente desistiu de ter o “príncipe” como companheiro de chapa.

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“Trabalhei exaustivamente pela minha candidata, que era a Janaína. Fiz o que pude. O presidente precisa urgentemente buscar auxílio psiquiátrico. Ele não está bem. No primeiro momento, quando soube da alegação, fiquei perplexo e indignado. Sou um ser humano normal. Mas, sinceramente, agora, me dá pena perceber o estado emocional e psíquico em que ele se encontra. Não obstante, independente disso, diante da gravidade do fato, sou obrigado a buscar respaldo judicial. Lamento muito tudo isso”, afirma o ex-ministro.

O atentado em Juiz de Fora

Em 6 de setembro de 2018, Bolsonaro foi alvo de uma facada desferida pelo ex-garçom Adélio Bispo de Oliveira durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG). Ferido no abdômen com uma faca cuja lâmina tinha 30 centímetros, Bolsonaro foi operado na Santa Casa de Misericórdia da cidade mineira e, no dia seguinte, transferido ao Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A recuperação afastou o então candidato da campanha, vencida por ele no segundo turno contra o ex-prefeito Fernando Haddad. Além da cirurgia em Juiz de Fora, Bolsonaro foi submetido a outras três operações por causa da facada, a mais recente delas em setembro de 2019.

As investigações da Polícia Federal concluíram que Adélio agiu sozinho, embora o presidente e seu clã alimentem a teoria de que a ação teve um mandante. Considerado inimputável pela Justiça em função de transtornos mentais, Adélio Bispo está preso no presídio federal de Campo Grande (MS).

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