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Atuais prefeitos largam na frente nas pesquisas para as eleições de 2024

Com gestões bem avaliadas e mais dinheiro em caixa, gestores da maioria das capitais estão em boa posição para tentar um novo mandato na próxima campanha

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 ago 2023, 08h00

A um ano do início da campanha eleitoral para as prefeituras, as primeiras pesquisas de opinião mostram que a grande maioria dos governantes das capitais que poderão tentar um novo mandato larga em posição privilegiada para a disputa de 2024. Em catorze cidades mapeadas pelo instituto Paraná Pesquisas entre março e julho deste ano, nada menos que dez dos atuais ocupantes do cargo estão à frente nas sondagens de intenção de votos. Mais do que as projeções eleitorais, no entanto, já que os cenários de candidaturas ainda estão indefinidos, o que aponta para uma forte tendência à reeleição nos principais municípios são os bons índices de aprovação das atuais gestões (veja o quadro).

Alguns dos candidatos à reeleição que despontam em situação privilegiada nas fotografias de momento já foram campeões de votos em 2020. Um deles é o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), ungido com a maior votação proporcional do país na última corrida municipal (64,2% dos votos válidos) e que hoje tem o seu governo aprovado por 68% da população da capital baiana. João Campos (PSB), que precisou travar dura disputa no segundo turno com Marília Arraes (então no PT), tem hoje 66,3% do eleitorado satisfeito com a sua gestão no Recife.

Entre os quatro prefeitos que não lideram as primeiras pesquisas de intenção de voto, três deles têm um ponto em comum: eram vices em suas chapas em 2020, o que diminui o tamanho do recall por parte dos eleitores. Dois assumiram as prefeituras por causa da morte dos titulares antes da posse — Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo (no lugar de Bruno Covas), e Rogério Cruz (Republicanos), em Goiânia (que era vice de Maguito Vilela). Já Fuad Noman (PSD), de Belo Horizonte, ocupou o lugar de Alexandre Kalil quando ele deixou a prefeitura para tentar, sem sucesso, o governo de Minas Gerais no ano passado.

Um dos motivos para a boa popularidade dos atuais governantes é o caixa cheio. A maioria das cidades experimentou nos últimos anos um substancial aumento de receitas — em média de 20% nas capitais entre 2018 e 2022, segundo pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole, da Universidade de São Paulo (CEM/USP). Um bom exemplo é a maior cidade do país, São Paulo, que viu a arrecadação crescer 27% no período, o que significa muito dinheiro a mais (de 62 bilhões de reais para 78 bilhões de reais). Em Belo Horizonte, o caixa engordou 19% (de 11,5 bilhões de reais para 13,6 bilhões de reais). Nos dois casos, os ex-vices Nunes e Noman estão atrás nas pesquisas, mas o caixa cheio e a popularidade acima de 50% dão esperança de que possam virar o jogo até 2024.

VISIBILIDADE - Eduardo Paes: 3,7 bilhões de reais em reduto bolsonarista
VISIBILIDADE - Eduardo Paes: 3,7 bilhões de reais em reduto bolsonarista (Fabio Rossi/Agência O Globo/.)

As explicações para os reforços nos caixas são múltiplas e remontam a 2020, primeiro ano da pandemia. Além do socorro do governo federal, que liberou 60 bilhões de reais a estados e municípios, o auxílio emergencial de 600 reais pago a milhões de brasileiros aqueceu as economias locais e aumentou a arrecadação de tributos como o ISS (imposto sobre serviços). No ano seguinte, com a manutenção do benefício e um pique inflacionário, houve novos ganhos. Soma-­se a isso o fato de que algumas despesas ficaram congeladas no período, como o salário do funcionalismo.

Boa parte desse dinheiro tem sido usada para investimentos em locais bem visíveis para a população, como obras viárias e intervenções de zeladoria urbana. No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PSD), cuja gestão é aprovada por 55,8%, quer construir em Campo Grande, Zona Oeste — região em que foi derrotado em 2020 por Marcelo Crivela —, um anel viário, com dois túneis e ampliação de ruas, além de dois parques, entre outras obras. O custo total: 3,7 bilhões de reais, dos quais 30% poderão ser obtidos via BNDES. O mesmo caminho trilha Ricardo Nunes, em São Paulo. Com 36 bilhões de reais em caixa e 56,7% de aprovação, o sucessor de Covas também lança mão de obras viárias para alavancar a imagem, como um bilionário plano de recapeamento asfáltico. “Com o caixa mais cheio, as prefeituras puderam investir em habitação, urbanismo, áreas de infraestruturas”, afirma Ursula Peres, pesquisadora do CEM/USP.

DESAFIO - Nunes: coalizão para enfrentar favoritismo da esquerda
DESAFIO - Nunes: coalizão para enfrentar favoritismo da esquerda (Wanezza Soares//)

Em meio ao cenário positivo, há quem patine em suas próprias crises. Em Fortaleza, o prefeito José Sarto (PDT), apesar de uma elevação de 15% na receita em 2022, tem um duplo motivo de preocupação: a alta rejeição de sua administração (50,9% a desaprovam) e baixo potencial eleitoral: ele aparece em terceiro lugar, com apenas 13,9% de intenção de votos, atrás do ex-deputado Capitão Wagner (União), com 38,1%, e da ex-prefeita Luizianne Lins (PT), com 26%, no último levantamento, feito em abril. Entre os prefeitos eleitos em 2020, ele é o único que não aparece à frente das pesquisas no momento. Ligado ao ex-presidenciável Ciro Gomes, Sarto está em uma ala antagônica à do senador Cid Gomes, que trava com o irmão uma disputa interna pelo comando do partido. Em meio a desgastes provocados pela criação de uma taxa do lixo, no ano passado, que acabou barrada na Justiça, o prefeito demonstrou interesse em concorrer à reeleição, com o apoio de Ciro, mas Cid prefere uma aliança com o PT, que governa o estado com Elmano de Freitas.

O fato de ter muito dinheiro nas mãos, no entanto, deve inspirar cuidados nos políticos que já estão com a máquina a todo o vapor em busca de dividendos políticos. “As ações de abuso de poder político, depois da inelegibilidade de Jair Bolsonaro por esse motivo, deverão aumentar no ano que vem, devido à postura mais firme que o Tribunal Superior Eleitoral adotou”, avalia o advogado Renato Ribeiro de Almeida, coordenador da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep).

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FORA DA CURVA - Sarto, em Fortaleza: terceiro em pesquisa
FORA DA CURVA – Sarto, em Fortaleza: terceiro em pesquisa (Reprodução/Instagram)

A boa posição dos atuais prefeitos também deve ser colocada dentro do contexto político mais amplo. A taxa de reeleição havia dado um pico em 2020, quando chegou a 63% — quatro anos antes, em meio a uma onda de renovação política que se formava pelo país, ela havia sido de apenas 46%. A pandemia teve um impacto importante, não só em razão do aumento de caixa, mas também porque permitiu uma ampla exposição dos prefeitos em razão dos esforços diários para conter o avanço da Covid-19. Na eleição anterior, dez dos treze prefeitos de capitais que tentaram um novo mandato tiveram sucesso.

A eventual confirmação do favoritismo à reeleição preocupa, claro, quem quer mudar o cenário. Com a maioria das capitais governadas por políticos de centro-direita, é uma má notícia para o PT, que tenta se recuperar do fiasco de 2020, quando, pela primeira vez, não venceu em nenhuma capital. A esperança é Lula — em 2004, ano seguinte à chegada do petista ao poder, o partido elegeu nove prefeitos de capitais, seu recorde histórico. Mesmo assim, em São Paulo, onde a sigla já governou três vezes, a aposta para o ano que vem foi no apoio ao deputado Guilherme Boulos (PSOL), o segundo colocado em 2020. “O PT entendeu a importância de abrir mão de certas candidaturas, sob o risco de perder”, avalia o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Mackenzie. Nas pesquisas, Boulos aparece hoje à frente de Ricardo Nunes. O prefeito de São Paulo tem o desafio de fazer valer a tendência de que os titulares dessa cadeira têm tudo para ficar mais quatro anos no cargo.

Publicado em VEJA de 11 de agosto de 2023, edição nº 2854

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