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Ataque de Jefferson à PF instaura clima de ‘barata-voa’ no bolsonarismo

Reações tentam conciliar críticas ao ex-deputado com ressalvas ao inquérito do STF e uma tentativa confusa de evitar impacto eleitoral negativo a Bolsonaro

Por José Benedito da Silva Atualizado em 24 out 2022, 09h04 - Publicado em 23 out 2022, 18h34
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  • Há uma expressão popular, oriunda de uma brincadeira infantil, chamada “barata-voa”, que, segundo o site Dicionário Informal, é o que ocorre quando há algo que cria pânico ou descontrole do ambiente – em alusão ao que geralmente acontece quando o temido inseto alça um de seus voos curtos em um local onde há pessoas. Ou seja, há gritaria e cada um correndo para um lado, sem saber muito bem o que fazer.

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    Pois é mais ou menos isso que está acontecendo no entorno da campanha do presidente Jair Bolsonaro e entre alguns de seus apoiadores mais radicais. Ninguém sabe muito bem o que dizer nem o que fazer.

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    O exemplo mais claro veio do deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), que às 12h59 convocava os bolsonaristas no Twitter a irem para a frente da casa de Jefferson, no subúrbio do Rio de Janeiro, para ajudar na resistência à prisão. “Não podemos deixar que levem Roberto Jefferson preso! A liberdade se traduz nisso! Mobilizem e se dirijam para a casa dele. O inquérito e a prisão são ilegais. Não podemos permitir!”, postou.

    Quatro horas depois, o deputado, que voltava do Paraná para o Rio, disse que o plano havia mudado. “Sou um soldado. Recebi uma ordem para recuar porque será resolvido e a ordem será cumprida”, escreveu às 16h30. Mesmo assim, não se sabe se atendendo ao seu pedido, havia já um punhado de manifestantes vestidos de verde e amarelo em frente à casa do ex-deputado.

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    No começo da tarde, outro aliado de Bolsonaro no Rio, o pastor e deputado federal Otoni de Paula (MDB), também mostrou que estava perdido. “Consegui falar com a assessoria do nosso presidente. O presidente já tomou a decisão de mandar as nossas Forças Armadas proteger o Roberto Jefferson. Vamos somente orar para que as Forças Armadas cheguem a tempo, e consigam proteger esse patriota”, disse em vídeo.

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    O ministro da Justiça, Anderson Torres, a quem a PF está subordinada, nem se lembrou de prestar alguma solidariedade aos policiais federais alvos do ataque. Enviado às pressas por Bolsonaro para o Rio, disse que seu objetivo era encerrar o problema. “Momento de tensão, que deve ser conduzido com muito cuidado. Ministério da Justiça está todo empenhado em apaziguar essa crise, com brevidade, e da melhor forma possível”, postou.

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    Já o seu antecessor no cargo, o ex-ministro Sergio Moro, senador eleito pelo União Brasil, demorou mais de cinco horas para se pronunciar. E, quando se pronunciou, não disse muito. “Coisa mais sem noção esse ataque aos agentes da PF. Espero que estejam bem. Minha solidariedade”, postou.

    Dano eleitoral

    O temor de que o episódio tenha consequências eleitorais também ficou claro em algumas reações. Ao lado de Bolsonaro, em uma live, o ministro Fábio Faria (Comunicações), negou que Jefferson seja coordenador informal da campanha (como se espalhava nas redes sociais) e lembrou que o PTB tinha um candidato ao Palácio do Planalto, o Padre Kelmon — que nos debates sempre atuou como linha auxiliar do presidente. Bolsonaro emendou. “Não tem uma foto dele comigo”, disse, para logo em seguida ser desmentido por vários posts na internet com fotos dele ao lado de Jefferson.

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    A preocupação com impacto no eleitorado também moveu o candidato bolsonarista ao governo de São Paulo, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), que criticou Jefferson, seu aliado na eleição estadual. “Lamento e repudio fortemente as falas agressivas à ministra Carmen Lúcia, bem como a reação absurda de Roberto Jefferson nesta manhã. Deixo aqui a minha solidariedade aos agentes feridos no exercício do seu trabalho e reforço a minha opinião de que nada justifica a violência”, disse.

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    Mudança de foco

    Outros tentaram criticar Jefferson, mas ressalvando que a prisão era ilegal, como o senador eleito e vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos). “Lamento as falas (contra a ministra Cármen Lúcia, do STF) e repudio o episódio envolvendo o senhor Roberto Jefferson. Tal estado de coisas acontece porque o sistema de freios e contrapesos não está funcionando”, disse, reforçando mais uma vez que uma de suas prioridades no Senado será propor mudanças no STF.

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    Aliados com grande influência nas redes sociais também ficaram meio sem saber o que dizer. A deputada federal Bia Kicis (PL-DF), por exemplo, nem repudiou o ataque de Jefferson aos policiais. “Momento gravíssimo da nossa combalida democracia. PF cumpre ordem de prisão de Roberto Jefferson, mas ele diz que não irá se entregar. Já houve tiroteio”, limitou-se a postar, sem explicar se a ameaça à democracia que ela vislumbrava era a prisão do aliado ou o ataque dele a tiros contra os policiais.

    Já a deputada Carla Zambelli (PL-SP) preferiu criticar o STF. “Não existe crime de opinião no Brasil. Lamento e repudio as falas e ações de Roberto Jefferson, mas vemos agora com muito mais preocupação as consequências dos atos inconstitucionais praticados por aqueles que deveriam proteger a Constituição”, disse.

    O pastor Silas Malafaia, da igreja evangélica Assembleia de Deus, um aliado importante de Bolsonaro, também foi para cima do Supremo. “O que é pior? A ofensa do Roberto Jefferson à ministra ou o voto da ministra? Eu não concordo com nada que o Roberto Jefferson falou, também não concordo com ele trocar tiros com os policias federais. Mas olha o que está acontecendo no Brasil, gente! Pior do que a ditadura, pior do que o AI-5”, declarou em vídeo.

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    Mais de cinco horas depois do episódio, alguns importantes integrantes da coordenação de campanha de Bolsonaro permaneciam em silêncio, ao menos nas redes sociais, como o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) e o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten.

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