As atitudes que traduzem o desânimo de Bolsonaro na campanha de Ramagem no Rio
Ex-presidente dificultou a organização prévia de agendas com candidato do PL, negou ida ao último debate e não vai acompanhá-lo durante seu voto no domingo
Tratada como a última cartada da campanha de Alexandre Ramagem (PL) à prefeitura do Rio, a vinda do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à capital fluminense não teve o entusiasmo esperado. O capitão era aguardado no estado para turbinar candidatos importantes para o partido no interior e na Região Metropolitana, mas principalmente para contribuir na disputa contra o prefeito Eduardo Paes (PSD) em território carioca. A dois dias da votação nas urnas, contudo, o que se viu foi uma única aparição pública do ex-chefe do Planalto com Ramagem, feita de última hora, de maneira improvisada e sem que o postulante do PL pudesse opinar.
Até a semana passada, a ideia era que o sprint final de Ramagem contasse com agendas nas ruas ao lado de Bolsonaro, aproximando o candidato ainda mais da população carioca em um momento de crescimento nas pesquisas — justamente por causa da associação com o ex-presidente. A atenção do capitão, porém, acabou mais voltada para a cidade de Angra dos Reis — uma das prioridades dos bolsonaristas no estado, como mostrou VEJA — e para Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Neste último ato, realizado na tarde desta quinta-feira, 3, Bolsonaro subiu em palanque para centenas de pessoas ao lado do candidato a prefeito local Netinho Reis (MDB), nos moldes do que era esperado para a capital.
Nesse período, o único encontro público entre Bolsonaro e Ramagem até aqui aconteceu na manhã desta quinta. Embora a campanha tentasse organizar a programação, o ex-presidente se limitou a pedir que o candidato do PL o encontrasse em sua casa, às 7h. Ramagem assim o fez, e cinco minutos depois, ao descobrir o destino, partiu junto com Bolsonaro em direção à Avenida Brasil, uma das principais vias expressas da cidade do Rio. Lá, subiram no alto de uma passarela na altura de Guadalupe, bairro da Zona Norte, e acenaram aos motoristas que, animados com a presença do capitão, buzinavam.
O improviso na escolha do local custou a divulgação do número usado por Ramagem nas urnas: não havia muitas referências à campanha, à exceção dos pequenos adesivos usados pela comitiva, que incluía Carlos e Flávio, filhos de Bolsonaro, e de um pequena bandeira tremulada ao lado deles. Questionado sobre a falta de aderência do ex-presidente à campanha, um integrante da equipe de Ramagem foi sucinto: “É esse o jeitão de Bolsonaro, não tem muito o que fazer”, disse.
Horas depois, o candidato do PL já se preparava para o debate da TV Globo, tratado com grande importância pelas campanhas por ser o último antes do primeiro turno da eleição, marcada para este domingo, 6. Ramagem hoje ocupa a segunda posição nas pesquisas, com 22% das intenções de voto, atrás de Eduardo Paes, que soma 54% e pode liquidar a fatura antes do segundo turno. Nem esse argumento convenceu Bolsonaro a colar no aliado político. Convidado por Ramagem a acompanhá-lo nos estúdios da Globo para o programa, Bolsonaro preferiu terceirizar a tarefa para o filho. “Leva o Carlos”, sugeriu o ex-presidente.
A pouca empolgação passa pela improvável virada de Ramagem contra Paes, que conseguiu manter ao longo de toda a campanha patamar acima dos 50% das intenções de voto. O cenário foi reconhecido por Bolsonaro na caminhada feita por ele em Angra dos Reis. “Está difícil. Vamos tentar fazer com que haja segundo turno. Acredito que é possível”, projetou, quando questionado sobre a eleição carioca.
Para esta sexta-feira, é esperado novo ato de Ramagem com Bolsonaro na Zona Oeste do Rio, região mais populosa e onde o ex-presidente tem histórico de boas votações. Mas, até o momento, sua campanha não divulgou agenda alguma, nem foi publicado registro nas redes sociais dos dois.
E a distância deve permanecer no domingo: como faz tradicionalmente, Bolsonaro deverá votar sozinho nas primeiras horas da manhã em sua zona eleitoral, na Vila Militar, enquanto Ramagem também irá às urnas sem a companhia de quem tem classificado como seu “único padrinho político”.