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As amizades políticas do fundador da Qualicorp, preso pela PF nesta terça

Alvo de operação que mira caixa dois na campanha de Serra, José Seripieri Júnior emprestava mansão e jatinho a Lula e teve casamento 'suprapartidário'

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 jul 2020, 11h18 - Publicado em 21 jul 2020, 10h01

Preso temporariamente nesta terça-feira, 21, na Operação Paralelo 23, que mira suposto caixa dois de 5 milhões de reais na campanha do senador José Serra (PSDB-SP) na eleição de 2014, o empresário José Seripieri Júnior, fundador da corretora de planos de saúde Qualicorp, mantinha relações estreitas com o mundo político.

Os contatos de Júnior, como é conhecido, se davam sobretudo no PT, especialmente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas incluíam ainda tucanos como Serra e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Os três políticos estavam entre os convidados do suprapartidário casamento do empresário, em junho de 2014, com Daniela Filomeno, ex-diretora de comunicação do Grupo Doria e ex-conselheira do Lide, ambos fundados pelo governador paulista, João Doria (PSDB). Também compareceram ao casamento, em um luxuoso condomínio em Bragança Paulista (SP), o Quinta da Baroneza, o então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e a então senadora Marta Suplicy.

Em sua delação premiada, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil nos governos Lula e Dilma Rousseff, Antonio Palocci, relatou que os elos políticos de Júnior foram construídos a partir da amizade dele com o médico Roberto Kalil Filho, diretor do centro de cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, que atendia os ex-presidentes petistas enquanto eles ocupavam o Palácio do Planalto.

A influência do fundador da Qualicorp rendeu frutos a ele nos governos do PT. Antonio Palocci disse em sua delação que, em 2009, no segundo mandato de Lula, Júnior emplacou um diretor da Qualicorp, Maurício Ceschin, como diretor e depois diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), autarquia que regula planos de saúde.

A nomeação, disse Palocci, produziu duas resoluções que “visavam, sobretudo, garantir à Qualicorp um monopólio de mercado, na corretagem de seguros”. As medidas previstas eram a obrigação de que todos os planos de saúde fossem vendidos com corretagem, proibindo as operadoras de plano de saúde de fazer vendas diretas e liberar a permissão a planos coletivos em sistemas de associação. O ex-ministro disse ter ficado sabendo das movimentações por meio de Kalil e de concorrentes descontentes da Qualicorp, como Amil e Bradesco, que eram suas clientes em sua empresa de consultoria, a notória Projeto.

Condenado e preso por 580 dias na Operação Lava Jato, Lula passou ao menos dois réveillons com a família na mansão do empresário em um condomínio de luxo em Angra dos Reis (RJ), quando já havia deixado a Presidência. Júnior também costumava emprestar helicóptero e jatinho para deslocamentos do petista. Segundo Palocci, Júnior o procurou em setembro de 2014 “perguntando como faria para doar para a campanha de Dilma Rousseff”. Naquele ano, segundo dados da prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Qualicorp doou 4 milhões à campanha de Dilma, que acabou reeleita, e 2 milhões de reais ao comitê de campanha do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves.

O ex-ministro relatou ainda que “atendida em todos os seus pleitos perante o governo, a Qualicorp não media esforços em atender todas as contrapartidas solicitadas” e citou “aportes de vantagens indevidas” em campanhas políticas, no Instituto Lula e “provavelmente” na Touchdown Promoção de Eventos Esportivos, empresa de Luís Cláudio Lula da Silva, filho mais novo do ex-presidente. Também foi José Seripieri Júnior quem pagou, segundo Palocci, mais de 1 milhão de reais pela contratação do advogado Celso Vilardi à defesa de Rosemery Noronha, ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, de quem Lula era próximo.

O nome de Júnior também foi relacionado ao meio político em circunstâncias trágicas. Era dele o helicóptero que, pilotado por Thomaz Alckmin, filho de Geraldo Alckmin, caiu sobre uma residência em Carapicuíba (SP) em abril de 2015. Thomaz, com 31 anos, e todos os quatro demais tripulantes morreram. Em dezembro de 2018, o filho do empresário, o piloto Luca Seripieri, se envolveu em um acidente de carro no condomínio Quinta da Baroneza, em Bragança. Com a batida do Mini Cooper em uma árvore, uma das passageiras, Thais Novak, de 18 anos, morreu.

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