Quatro dias após o vazamento de um áudio no qual usou o termo “de Paraíba” para se referir aos governadores nordestinos, o presidente Jair Bolsonaro visitará a região nesta terça-feira, 23. Às 9h30, o presidente embarca em Brasília com destino à cidade baiana de Vitória da Conquista, onde participará da inauguração do aeroporto Glauber Rocha.
Rui Costa (PT), governador da Bahia, era outra autoridade esperada no evento, mas cancelou a participação em meio ao desgaste entre o governo federal e algumas lideranças da região. “Exercitando a boa educação que aprendi, convidei o governo federal a se fazer presente no ato de inauguração, nesta grande festa. Infelizmente, confundiram a boa educação com covardia, e desde então, temos presenciado agressões ao povo do Nordeste e ao povo da Bahia”, disse Costa na véspera.
“A medida anunciada é excluir o povo da inauguração, fazer uma inauguração restrita a poucas pessoas, escolhidas a dedo como se fosse uma convenção político-partidária. Não posso concordar com isso”, completou o governador baiano. Por meio de pronunciamento de seu porta-voz, Otávio do Rêgo Barros, a Presidência negou ter determinado que o evento seja fechado e que tenha recebido informações sobre eventuais protestos.
O aeroporto Glauber Rocha – batizado em homenagem ao cineasta natural de Vitória da Conquista, responsável por longas premiados como Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro – custou cerca de 145 milhões de reais em recursos do governo federal e estadual, com financiamento federal concluído na gestão presidencial anterior, de Michel Temer.
Sete governadores da região nordestina são filiados a partidos opositores ao governo Bolsonaro: Camilo Santana (PT-CE), Fátima Bezerra (PT-RN), Flávio Dino (PCdoB-MA), João Azevêdo (PSB-PB), Paulo Câmara (PSB-PE), Rui Costa (PT-BA) e Wellington Dias (PT-PI). Os outros dois – Renan Filho (MDB-AL) e Belivaldo Chagas (PSD-SE) – pertencem a legendas que, segundo declarações de seus líderes, não integram a base governista, mas estão alinhadas em questões específicas.
Todos eles assinaram carta em repúdio ao áudio no qual Bolsonaro usa a expressão “de Paraíba” para se referir a governadores da região e diz que o maranhense Flávio Dino era o “pior deles”.
Declaração
Na sexta-feira, um áudio vazou com uma conversa entre Bolsonaro e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante café da manhã com jornalistas. No diálogo, o presidente diz: “Daqueles governadores de ‘Paraíba’, o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”. Em carta, tanto o governador maranhense, Flávio Dino, quanto outros políticos da região acusaram o presidente de preconceito.
Bolsonaro confirmou a crítica a Dino, mas não o termo “de Paraíba”. O presidente disse que foi “uma crítica em 3 segundos” e que a imprensa “fez uma festa” com a declaração. “Eles [os governadores do Nordeste] são unidos. Eles têm uma ideologia, perderam as eleições e tentam o tempo todo através da desinformação manipular eleitores nordestinos”, avaliou.
Ao longo do fim de semana, ele voltou a comentar o caso em entrevistas. “Falei sobre governadores do Maranhão e da Paraíba, que são intragáveis. Tenho tanta crítica ao Nordeste que casei com a filha de um cearense”, declarou Bolsonaro no sábado.
“A Bahia é Brasil. Sem problemas. Sou amigo do Nordeste, poxa. Se eu tenho um problema no Sul, não se fala na Região Sul, Centro-Oeste e Norte. Por que essa história? Vocês mesmos da mídia querem separar o Nordeste do Brasil. O Nordeste é Brasil, é minha terra e eu ando em qualquer lugar do território brasileiro”, disse o presidente, também no sábado, a jornalistas.
Em contrapartida, além de políticos, outras personalidades nordestinas, como as cantoras Alcione e Daniela Mercury, gravaram vídeos nas redes sociais criticando a expressão utilizada por Bolsonaro no áudio. “Presidente Bolsonaro, não votei no senhor e não me arrependo. Eu sou uma brasileira que não torço contra o governo, porque não sou burra. Mas meu avô já dizia, quem quer respeito, se dá. E o senhor não está se dando ao respeito. O senhor precisa respeitar o povo nordestino. Respeite o Maranhão”, afirmou Alcione, vestindo uma camisa com a estampa da bandeira do estado
Nesta segunda-feira, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) postou em suas redes sociais um vídeo no qual acusa Bolsonaro de se referir de maneira preconceituosa contra nordestinos. Na filmagem, o presidente questiona se o ministro da Infraestrutura, Tarcisio de Freitas, possui parentes “pau-de-arara”, se referindo à região. Com a resposta afirmativa do ministro, Bolsonaro diz: “Com esta cabeça aí, tu não nega não”.