A recente tendência de troca de nomes de partidos políticos chegou nesta terça-feira às grandes legendas. Em sua convenção nacional, o PMDB, do presidente Michel Temer, anunciou que depois de 37 anos voltará a se chamar apenas Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A alteração ainda precisará ser ratificada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Nós estamos recuperando o nome do MDB e, junto com a recuperação do nome, queremos ter causas claras para lutar pela sociedade brasileira”, afirmou o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), durante o encontro. Ele elencou como algumas dessas “causas” bandeiras liberais, como um “estado mais enxuto” e a desburocratização da atividade econômica.
Depois de anunciar que não compareceria, Temer chegou ao final da convenção para exaltar seu período de um ano e sete meses à frente do governo. O presidente falou pouco sobre a mudança de nome, fazendo menções a história do partido nas primeiras décadas. Ainda se acostumando à mudança, ele alternou a versão com e sem a letra “P” ao longo do discurso e encerrando a fala com um “viva ao nosso MDB”.
A mudança de nome é uma estratégia para recuperar o prestígio que tinha durante o regime militar. Com a instituição do bipartidarismo pela ditadura em 1966, o MDB foi fundado para agregar as forças de oposição, unindo, da esquerda à direita, as forças do espectro político que trabalhavam pela redemocratização.
A agremiação tinha como adversária a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que dava sustentação política civil aos militares. Em 1979, a ditadura decretou uma mudança nas regras partidárias que obrigava todas as legendas a iniciarem seu nome com a palavra “Partido”. Em virtude disso, o MDB se tornou PMDB, em registro oficial a partir de 1980.
Agora, apesar de manter algumas características, como a heterogeneidade e o caráter regional, o PMDB viu muitos dos grupos que engrossavam o coro contra a ditadura formarem outros partidos. É o caso, por exemplo, do segmento de intelectuais e políticos que deixou o PMDB em 1988 para fundar o PSDB. Muitos dos que deram origem ao PT em 1980 também militaram na antiga agremiação na década anterior, caso do ex-senador e hoje vereador paulistano Eduardo Suplicy.
O “novo MDB” é diferente, no entanto, daquele que acabou há quase quarenta anos. Para além do desgaste coletivo da classe política, o partido se viu especialmente atingido pelas investigações da Operação Lava Jato: junto com o PT e o PP, é uma das legendas acusadas de sustentar politicamente diretores da Petrobras em troca de propinas pagas por empreiteiras.
Neste ano, os nanicos PTN e PTdoB também fizeram essa reforma e adotaram novas nomenclaturas: Podemos e Avante, respectivamente. Outros partidos, como PP e PSL também estudam mudanças para fazer frente ao desgaste das legendas tradicionais.
Até o PEN, que tinha a ecologia como causa principal, passará a se chamar Patriotas para agregar as ideias e o projeto presidencial do deputado Jair Bolsonaro (RJ), hoje no PSC. Em 2006, o Partido da Frente Liberal, originado da antiga Arena, puxou a fila de “repaginação” e passou a se chamar Democratas.
Disputas internas
Em seu discurso na convenção nacional, Romero Jucá aproveitou para tentar apaziguar os ânimos que cresceram nos últimos dias em virtude do fundo partidário. Grupos minoritários reclamavam de que a legenda favoreceria os atuais deputados e caciques políticos. Jucá alegou que o estatuto “apenas incorporaria” a mudança nas regras eleitorais e que os detalhes de organização interna partidária ficariam para março.
O presidente do PMDB também afirmou que decidiu intervir na disputa que se desenrola há três meses no diretório da legenda em Pernambuco. O senador Fernando Bezerra Coelho, que se filiou em setembro vindo do PSB, vinha se desentendendo com o grupo político do deputado Jarbas Vasconcelos, que tinha o vice-governador Raul Henry no comando estatual. Henry será deposto pela Executiva Nacional e substituído por Bezerra.