Em meio às investigações da Polícia Federal sobre uma suposta espionagem ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o presidente Lula decidiu nesta terça-feira, 30, exonerar o número 2 da agência, Alessandro Moretti. A demissão foi oficializada em edição extra do Diário Oficial da União desta terça.
Antes do anúncio da queda de Moretti, aliados do presidente diziam que a situação do diretor-adjunto era insustentável e que, se Lula não o demitisse, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes acabaria, numa canetada, afastando o assessor da função.
Considerado esse risco, seria melhor, portanto, o próprio Lula tomar a decisão.
Moretti passou a ser alvo das apurações sobre uma suposta “Abin paralela” após a Polícia Federal ter constatado que ele, durante reunião em março de 2023 com os investigados pela operação, dizer que a ação teria “fundo político e iria passar”.
Em petição na qual citou a declaração de Moretti, a PF afirmou que essa “não é postura esperada de Delegado de Polícia Federal que, até dezembro de 2022, ocupava a função de Diretor de Inteligência da Polícia Federal cuja essa unidade – Divisão de Operações de Inteligência – lhe era subordinada”.
Em outubro do ano passado, Moraes afastou o “03” da agência, Paulo Maurício Fortunato, também no âmbito das apurações sobre o uso de um software espião contra políticos, ministros e adversários do ex-presidente Jair Bolsonaro. Fortunato, que ocupava uma diretoria da Abin no governo anterior, também foi alvo de busca e apreensão.
Lula evitou contrariar o chefe da Abin
O desgaste de Moretti com o governo é antigo. Ele atuou como secretário-executivo da Secretaria de Segurança do Distrito Federal quando Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, comandava o órgão.
Por isso, o presidente foi aconselhado, ainda em 2023, a barrar a nomeação dele para a agência. Entre os auxiliares que tentaram evitar a atuação de Moretti estão o ministro da Justiça, Flávio Dino, e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.
No entanto, o presidente argumentava que Moretti era um nome de confiança de Luiz Fernando Corrêa, o diretor-geral da agência, e que dava carta-branca para a montagem das equipes.
Nesta terça, porém, o presidente adotou outra postura. Lula afirmou em entrevista que dentro da equipe de Corrêa havia um “cidadão” [Moretti] que estava sendo acusado de manter relação com Alexandre Ramagem, chefe da Abin no governo Bolsonaro, inclusive durante o seu governo.
“Se isso for verdade que, está sendo provado, não há clima para esse cidadão continuar”, afirmou o presidente. Horas depois, a demissão de Moretti foi anunciada.