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Alexandre Frota: ‘O Jair fala demais’

O ex-ator pornô que virou deputado pelo PSL dispara críticas contra Bolsonaro e os filhos e diz que no jogo do Congresso não dá para ficar 'magoadinho'

Apresentado por Atualizado em 19 jul 2019, 16h32 - Publicado em 19 jul 2019, 06h30
Alexandre Frota
Alexandre Frota: ‘Não tem um na Câmara que não tenha telhado de vidro. Nem a deputada Maria do Rosário, que carrega Rosário no nome, é santa. A verdadeira pornografia está no Congresso, né?’ (Jefferson Coppola/VEJA)

Entre os 513 deputados federais eleitos em 2018, poucos têm um passado mais, digamos, pitoresco que o do carioca Alexandre Frota, do PSL de São Paulo: quinze anos atrás, ele era ator de filmes pornô e requisitado modelo de ensaios de nus para revistas voltadas ao público gay. Ele revê o passado com uma ponta de orgulho: “Se ainda lembram, é porque fiz bem”. Congressista dos mais ativos na leva de novatos que desembarcou em Brasília, Frota, de 55 anos, bolsonarista de primeira hora, gosta de apregoar que segue um caminho próprio dentro do partido — ora critica (já comprou brigas com os filhos do presidente e atacou o guru Olavo de Carvalho e foi atacado por ele), ora articula, como na blindagem do ministro da Economia, Paulo Guedes, por ocasião de sua audiência na Câmara. O deputado recebeu VEJA em seu escritório em São Paulo — decorado com imagens de Nossa Senhora, fotos com “Jair”, caveiras e um boneco de Lula na cadeia — para a entrevista a seguir.

O senhor satirizou nas redes a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Por que quis provocar o filho do presidente? Postei a foto de um hambúrguer com a frase “Para ser embaixador precisa ter qualificação”. Não foi um comentário ofensivo. Só uma crítica bem-humorada. Fritar hambúrguer, como ele diz que fez na juventude, não tem nada a ver com um currículo de diplomata. O Edu é um garoto mimado, com quem já tive experiências boas e ruins. Recentemente, levantamos uma bandeira branca em nome das decisões do PSL em São Paulo. Aliás, desejo que ele tenha sorte e, se puder, leve alguns desses seguidores de Olavo de Carvalho com ele.

Olavo de Carvalho ainda apita no governo? Não apita no Congresso, mas na família Bolsonaro, sim. Sabe o Menino Maluquinho? Então, o Olavo é o Velhinho Maluquinho. Tinha de botar uma panela na cabeça dele para ficar igual. É um charlatão que consegue fazer com que os Bolsonaro ouçam mais ele do que os amigos que correram com o Jair desde o começo. O presidente é a pessoa que poderia encerrar essa história. Ele ouviu isso de todo mundo.

Os filhos de Bolsonaro ajudam ou atrapalham o governo? Não acho que ajudam, não. Até agora não vi nada de útil vindo do senador Flávio Bolsonaro. O Carlos, então, só atua na contramão. Decidi bloqueá-lo em todas as minhas redes sociais.

Por que essa medida tão drástica? Carlos não escreve nada que me interesse. Ele é vereador no Rio de Janeiro. Não sei o que tanto faz em Brasília.

Como anda sua relação com o presidente? Já foi melhor. Um dia desses ele até me mandou calar a boca. Eu também acho que Jair fala muito. Você vê, ele arrancou um dente agora, ficou três dias sem dizer nada, e a gente ficou três dias sem problema.

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Quais são, afinal, os excessos de Bolsonaro? Quando ele abre a boca no Twitter, ultrapassa limites que deveria respeitar como presidente. Digo isso na cara dele, porque, quando Jair ainda era o candidato-comédia, quem o carregava para todo lugar em São Paulo era eu. Quando ele ia dar palestra e tinha medo de que a CUT ou o MTST atrapalhassem, quem chamava dez, quinze amigos da academia para fazer a segurança, buscar no aeroporto, levar para almoçar era eu. Parece que ele se esqueceu de tudo isso no dia em que chegou ao Planalto. Hoje, temos uma relação de deputado federal e presidente.

“Sabe o Menino Maluquinho? Então, o Olavo de Carvalho é o Velhinho Maluquinho. Tinha de botar uma panela na cabeça dele para ficar igual. É um charlatão”

Que tal a proposta de reforma da Previdência recém-aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados? Diante da inabilidade do governo Bolsonaro em dialogar com o Congresso, foi bem melhor do que muita gente esperava. Atendeu às necessidades do país, às expectativas do mercado financeiro e às do próprio ministro Paulo Guedes — e eu ouvi isso dele. Foram dias difíceis. A gente ia lá, construía o muro e ele caía.

Qual seria um momento em que o muro desmoronou? Fui eu que marquei o último almoço entre o Paulo Guedes e o Rodrigo Maia, em Brasília. Estava tudo certo entre os dois até que, perto da votação, o Aguinaldo Ribeiro, deputado do PP, surgiu com a seguinte declaração: que o ministro deveria se contentar com uma reforma mais comedida e não poderia sair fazendo beicinho por aí. Na mesma hora, o Guedes me ligou irritado, dizendo: “Desmarca o encontro que eu não tenho condição de almoçar com essa gente”. Foi uma confusão que só consegui desfazer porque acabei criando uma relação de alta confiança com o Guedes.

Como vocês se aproximaram? Houve uma situação crucial que nos uniu. A primeira vez que Guedes compareceu à Câmara para defender a reforma foi aquele desastre. Organizaram uma lista de parlamentares para fazer perguntas e os catorze primeiros inscritos eram da esquerda, um tremendo erro estratégico da nossa parte. Resultado: o ministro foi achincalhado durante duas horas e meia e perdeu o controle. Foi aí que o presidente do PSL, Luciano Bivar, teve a ideia de me dar a coordenação da comissão, e montei a estratégia para o segundo tempo na CCJ. Os nossos ocuparam as primeiras fileiras no plenário. Lá pela quarta fila, havia um de nós ao lado de cada deputado de esquerda. Se eles saíssem no grito, a gente saía também. No fim, levei o Guedes até o carro e ele disse: “Não volto mais aqui sem você”. Foi tática de futebol americano, que eu até já joguei. Veio dessa situação o Coach Frota, nome do nosso grupo sobre a reforma no WhatsApp. Eu adoro.

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Como avalia o desempenho da esquerda na Câmara? Acho bem previsível. Eles martelam o tempo todo que “essa Previdência é terrível”, que “essa Previdência vai acabar com o povo brasileiro”. Não vão além. Teve um dia em que abri a sessão da Comissão dizendo: “Olha, eu vou contar quantas vezes eu ouvi de vocês a palavra cruel”. Por isso tomaram essa lavada na votação da reforma. A vitória, diga-se de passagem, não é do Jair Bolsonaro, não. É do Rodrigo Maia.

O senhor está afirmando que o presidente não tem méritos nessa vitória? Poucos. Se o Rodrigo solta a mão da Previdência, já era.

E o ministério de Bolsonaro, vai bem? O que mais me chama a atenção é o Ministério das Relações Exteriores. Acho que o Brasil merecia um chanceler de mais alto nível que o Ernesto Araújo. Estou louco para ver o que esse pessoal vai dizer quando o Jair colocar os pés na China, no mês que vem. Prometo que vou estar lá na porta do avião para ver a cara do Ernesto e daquele Filipe Martins (assessor internacional da Presidência), que é o Louro José do Olavo de Carvalho e fica no ombro do presidente 24 horas por dia.

O senhor tem alguma relação com Filipe Martins? Está brincando, né? A gente que é faixa-preta não treina com faixa-branca.

“Não tem um na Câmara que não tenha telhado de vidro. Nem a deputada Maria do Rosário, que carrega Rosário no nome, é santa. A verdadeira pornografia está no Congresso, né?”

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Sua metralhadora giratória dá a entender que o senhor não está feliz nas hostes do governo. Pretende deixar o PSL, como se especula? Estou descobrindo que na carreira política você não pode ficar magoadinho nem decepcionadinho. Você tem de ficar p…. Sou muito amigo do Luciano Bivar, mas não gostei de certas decisões tomadas por outras pessoas do primeiro escalão. Hoje estou com eles, mas não nego que ando recebendo convites por aí.

Pode contar de quem? Hoje, às seis e meia da manhã, recebi este convite (toca áudio do governador paulista João Doria chamando-o para o PSDB). O DEM, no qual tenho amigos, também já acenou. Nenhuma porta está fechada.

O senhor vai de Bolsonaro 2022? Jair precisa honrar o que diz — e ele disse que não sairia para a reeleição. Afirmou isso para o Brasil todo e para mim diversas vezes. Mudou de ideia por quê? Gostou do jogo?

Um motorista que trabalhou com o senhor na Câmara dos Deputados o acusou de usá-lo como laranja. Procede? Não. Paguei tudo o que devia, todos os direitos, tudo certo. Três meses antes de sair a reportagem na qual ele fez essa acusação, eu já havia registrado até um boletim de ocorrência por extorsão. O cara tem um problema com o condomínio do apartamento dele e acha que eu tenho de pagar. Quando não paguei, ele começou a fazer ameaças e, nessa onda de laranjas, foi para a imprensa. Forneci à Justiça todos os documentos necessários. Podem quebrar meu sigilo bancário, telefônico, o que quiserem.

O senhor foi criticado por aliados depois de tirar uma foto com a produtora de Marighella. O que achou do filme? Não vi, mas não foi por ser de esquerda ou nada parecido. É só porque não me interesso pelo tema mesmo. Prefiro assistir ao Rambo V, que está para estrear.

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Por que abandonou a carreira no cinema pornô? Saí pela porta da frente, em 2004. Quis parar de fazer e parei. O incrível é que até hoje falam sobre isso — sinal de que eu fiz bem. Participei de doze novelas, a maioria delas na Rede Globo, mas o mais importante para as pessoas são os filmes pornô.

Se voltasse no tempo, preferiria não ter ingressado no ramo da pornografia? Se eu tivesse vergonha, não teria feito. Foi um momento da minha carreira. Eu não coloquei dinheiro na cueca, não saí com mala de dinheiro de restaurante, não desviei dinheiro do povo. Fazer filme pornô, perto disso, não é nada de mais. As pessoas esquecem que eu só f… nos filmes. O Lula f… o Brasil.

O senhor livrou-se completamente do vício em drogas? Felizmente, porque foi uma das piores fases da minha vida. Fui dependente químico durante quinze anos. Comecei a beber, fui para a maconha, passei para o pó, para o Ecstasy, até chá de cogumelo eu tomava. Isso me levou ao fundo do poço. Eu era pobre, fiquei rico e pobre de novo. A dependência química acaba com sua família, com você, com seus amigos. E eu não dei a sorte que o Fabio Assunção deu, de passar por vários problemas sérios e continuar a ser contratado. Tive de me virar.

Colegas seus de Câmara referem-se a seu passado? Ninguém fala na minha frente. Não tem um ali sem telhado de vidro. Nem a Maria do Rosário (PT-RS), que carrega Rosário no nome, é santa. A verdadeira pornografia está no Congresso, né?

 

OUÇA A HISTÓRIA DE ALEXANDRE FROTA NO PODCAST FUNCIONÁRIO DA SEMANA:

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Publicado em VEJA de 24 de julho de 2019, edição nº 2644

 

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