Em uma tentativa de conter o avanço do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) em meio ao eleitorado paulista, a campanha do candidato Geraldo Alckmin (PSDB) apelou a militantes e dirigentes de partidos aliados no estado para promover o nome do ex-governador e desconstruir o adversário. Bolsonaro hoje lidera, com 22%, as intenções de voto (no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) em São Paulo, maior colégio eleitoral do país e “reduto” dos tucanos.
Após ter governado São Paulo por quatro mandatos, Alckmin tem 16% das intenções de voto no estado. Tucanos e aliados cobram uma atuação mais intensa do ex-governador em sua base eleitoral e temem que se repita na população paulista o mesmo fenômeno que levou Aécio Neves a perder as eleições presidenciais de 2014.
Naquele ano, o senador perdeu para Dilma Rousseff em Minas Gerais por uma diferença de 550.000 votos (52,4% a 47,6%). Se tivesse conquistado uma vitória folgada em sua terra natal, Aécio teria sido eleito. Alckmin participa hoje em Mogi das Cruzes do primeiro ato político suprapartidário no estado após o início oficial da campanha. O ex-prefeito João Doria (PSDB), que disputa o governo do estado, não estará presente.
Antes disso, Alckmin só dedicou dois dias de sua agenda para fazer campanha no estado após o início da corrida presidencial — visitou a cidade de Ribeirão Preto no último sábado e a comunidade de Paraisópolis, na capital, no domingo. Também nesses casos, sem a presença de Doria. Já Bolsonaro fez uma espécie de caravana paulista na semana passada, passando por Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Araçatuba, José Bonifácio, Glicério e Barretos.
Um dos principais responsáveis pela mobilização do evento de hoje foi o ministro Gilberto Kassab (Comunicações), líder do PSD. São esperadas cerca de 2.000 pessoas, entre representantes e prefeitos de siglas do Centrão, como PP, DEM e PR.
Infidelidades
O ato está sendo formatado para mostrar unidade na coligação, afinar o discurso e impedir “infidelidades” entre representantes do colegiado partidário. Alguns dos deputados estaduais mais votados na última eleição, como Coronel Telhada, que deixou o PSDB para se filiar ao PP, já declararam apoio a Bolsonaro. Delegado Olim, também do PP, é outro que resiste em fazer campanha para o tucano.
E o problema não ocorre só em São Paulo. Há exemplos de traições no Rio, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Sul, onde o deputado Onyx Lorenzoni (DEM) ciceroneou Bolsonaro ontem em agendas de campanha. Segundo o deputado Silvio Torres (SP), tesoureiro nacional do PSDB e um dos mais próximos interlocutores de Alckmin, as agendas em São Paulo serão intensificadas na reta final da campanha por uma questão logística.
“Essa campanha é mais curta que a de 2014. A gente teve que cumprir primeiro muitas agendas fora do estado”, disse ele. Ainda segundo Torres, na reta final da campanha, Alckmin terá de ficar mais em São Paulo para gravar programas e participar de debates. O candidato aproveitará, então, para investir em sua base.
Presidente licenciado do PSD, Kassab considera “natural” o engajamento de políticos aliados. “É evidente que isso tem de acontecer, ainda mais agora com a intensificação da campanha. Ganhar em São Paulo ajudaria muito na eleição.”
Além de Kassab, os deputados estaduais Estevam Galvão (DEM) e Marcos Damasio (PR) também estão entre os responsáveis pelo evento de hoje. “Alckmin não está em um bom momento, isso é fato, mas vai crescer com o início da campanha na TV. Eu sou fiel à coligação, peço votos e acredito que o DEM está 100% fechado com ele, ao menos aqui em São Paulo”, afirmou Galvão, que vai tentar o quinto mandato na Assembleia Legislativa em outubro.
Aliado fiel do tucano ao longo dos últimos oito anos, o deputado estadual Campos Machado (PTB) diz estar fazendo a sua parte. Há quinze dias, ele realiza pelo interior paulista o que denomina como “caravana da lealdade” para divulgar, além da sua candidatura à reeleição, os nomes de Alckmin para a Presidência e de Márcio França (PSB) para permanecer no Palácio dos Bandeirantes.
‘Exército’
Ao mesmo tempo em que apela a aliados, a campanha do tucano tem a meta de treinar um “exército” de 10.000 militantes para divulgar Alckmin.
O PSDB diz que já “capacitou” 2.500 filiados em sete estados, como Pará, Sergipe e Minas Gerais. Hoje uma nova etapa ocorre em Curitiba, no Paraná. O objetivo oficial é ensinar os militantes a organizar grupos para combater boatos, especialmente os divulgados pelos apoiadores de Bolsonaro, usando a internet como ferramenta.
Os encontros, geralmente, começam com uma mensagem de incentivo de Alckmin. No vídeo que gravou para evento realizado em Belém, o candidato afirma que o engajamento da militância do PSDB e dos outros partidos vai fazer a diferença. “A garra de vocês vai nos levar para o segundo turno, para podermos trabalhar pelo Brasil.”