Valdemar Costa Neto estava com a família em casa, no interior de São Paulo, quando foi avisado por um assessor que o protesto de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília havia descambado para um quebra-quebra e se transformado em um ataque frontal às sedes dos três poderes. Dali em diante, o mandachuva do Partido Liberal (PL), sigla que havia abrigado o ex-capitão na campanha à reeleição, comandaria uma série de reuniões com um objetivo único: medir os estragos políticos na imagem de Bolsonaro e construir um discurso razoavelmente coeso para tentar se livrar de acusações de conivência com os baderneiros.
Na segunda-feira, 9, o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro, filhos do ex-presidente, apresentaram à cúpula do partido a versão – pouco crível – de que o pai estava incomunicável durante todo o domingo e que, portanto, não poderia ter dado qualquer tipo de orientação aos extremistas. Ainda não havia sido descoberta a minuta que previa a decretação do Estado de Defesa e a criação de uma comissão revisora das eleições e a preocupação mais imediata até aquele momento era a de que a planejada construção da figura do ex-capitão como principal líder oposicionista e virtual candidato à Presidência em 2026 fosse deixada de lado diante do rastro de destruição na Esplanada.
Costa Neto se reuniu separadamente com o general Walter Braga Netto, companheiro de chapa do ex-presidente nas últimas eleições, e com expoentes do bolsonarismo, como Bia Kicis, presidente do partido no Distrito Federal, e deu ordens para que filiados do partido flagrados em invasões e depredação dos prédios públicos sejam expulsos da sigla. O PL também encomendou uma pesquisa de opinião para mensurar danos à imagem do principal cabo eleitoral da legenda. Organizado pelo marqueteiro Duda Lima, o levantamento mostrou uma ascensão meteórica na popularidade de Lula, praticamente aniquilando o desgaste que o novo governo teve dias atrás ao tentar suspender a isenção fiscal dos combustíveis e reajustar o preço da gasolina.
Bolsonaro, que desde o final do ano passado está na Flórida, já havia dado sinais de que poderia antecipar o retorno ao Brasil, entre outras coisas por estar bancando com recursos próprios boa parte dos gastos no exterior. Com o quebra-quebra de domingo, porém, fez chegar ao partido que a volta deve ocorrer já nas próximas semanas.