A quem parte do PT atribui a declaração desastrosa de Lula sobre o aborto
Petistas dizem que a sugestão teria partido de "Janja", recém-casada com o ex-presidente, que assumiu papel de protagonismo na campanha do candidato

Ao se tornar uma das principais conselheiras do ex-presidente Lula, inclusive para assuntos relacionados à política, a socióloga Rosângela da Silva, conhecida como “Janja”, recém-casada com o petista, passou a receber ressalvas de parte dos líderes do PT. Embora seja militante do partido desde os anos 80, Janja é vista pelos críticos como alguém que não tem a experiência necessária para exercer o protagonismo que assumiu na campanha de Lula.
A ela têm sido atribuídas algumas das desastrosas declarações do ex-presidente, como a defesa que ele fez, em abril, da liberação do aborto. O tema não era debatido em nenhuma instância do PT naquele momento, muito mesmo entre aqueles que participam da elaboração do programa de governo que será apresentado pelo ex-presidente.
Desde o ano passado, o plano do partido é priorizar o debate econômico, com destaque para assuntos como a inflação e o poder de compra das famílias, para derrotar Jair Bolsonaro. Até por isso, a ordem interna é para que se evitem temas da pauta de costumes, sobretudo aqueles mais polêmicos e com potencial para afastar o eleitor conservador. Ao falar de aborto, Lula cometeu um erro do ponto de vista eleitoral, tanto que depois tentou desdizer o que disse.
Pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira 8 mostrou o tamanho do dano que esse assunto pode causar na campanha petista. Perguntados sobre o que fariam se o seu candidato defendesse o direito ao aborto, 50% dos entrevistados declararam que isso diminuiria as chances de votar nele. Só 7% afirmaram o contrário — que aumentaria as chances de voto. Não à toa, os bolsonaristas têm divulgado a fala de Lula sobre o aborto desde abril.
Como faz parte da cartilha petista rezar que o ex-presidente nunca erra, Janja tem sido responsabilizada pela derrapada. Segundo estrelas do partido, ela virou uma figura tão importante que praticamente controla a agenda de Lula, selecionando com quem o ex-presidente deve ou não se encontrar. Ela também é alvo de frequentes comparações com Marisa Letícia, ex-mulher de Lula já falecida, muito respeitada internamente, inclusive por sua discrição.