A meta eleitoral de Arruda no ninho bolsonarista
Mandachuva do PL, Valdemar Costa Neto quer ex-governador pivô do mensalão do DEM como puxador de votos no DF
Poucos meses foram tão turbulentos para a disputa eleitoral em Brasília quanto julho, mês em que o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (PL) retomou os direitos políticos e se apresentou no páreo para concorrer ao Palácio do Buriti contra o atual governador Ibaneis Rocha (MDB). Protagonista do escândalo do mensalão do Democratas em 2009, quando apareceu em vídeos recebendo maços de dinheiro de propina de empresas que prestavam serviços para o governo do Distrito Federal, Arruda foi banido da política por 12 anos e agora, de volta ao xadrez político na capital, recebeu do presidente do PL Valdemar Costa Neto a missão de disputar uma vaga à Câmara dos Deputados com a perspectiva de, como possível recordista de votos, eleger consigo pelo menos mais dois deputados federais pela sigla.
Entre outras coisas, a meta visa a conter eventuais insatisfações de outros pré-candidatos do PL à Câmara, como a deputada Bia Kicis (PL-DF), que disputaria o mesmo perfil de eleitor que Arruda e com chances de ter uma votação menos expressiva do que o ex-chefe do Executivo. Pela lógica de Valdemar, com Arruda como puxador de votos, outros expoentes do bolsonarismo, como a própria Kicis, não correriam o risco de ficar fora da lista de eleitos.
Embora o plano inicial do ex-governador fosse bater de frente com Ibaneis pelo comando do Executivo local, nos últimos dias Valdemar e o senador Flávio Bolsonaro se reuniram com o presidente Jair Bolsonaro a fim de convencê-lo de que a existência de um palanque duplo de nomes identificados com eleitores de centro-direita não seria a melhor costura eleitoral para os planos do ex-capitão. O motivo é menos pela existência de dois candidatos brigando entre si e mais pela prioridade política do PL de se manter como uma grande bancada na Câmara dos Deputados – atualmente é a maior com 77 parlamentares – e apostar em Arruda como um puxador de votos nas eleições proporcionais. O critério para distribuição dos bilionários recursos do fundo partidário, frise-se, é exatamente a quantidade de deputados vitoriosos na disputa de outubro.
Eleito sob a promessa de endurecer o combate à corrupção, na época potencializado pela Operação Lava-Jato, Bolsonaro trocou o discurso que o levou pela primeira vez ao Palácio do Planalto pela tentativa de domar a economia e controlar a inflação, tema que, segundo as pesquisas de intenção de votos, é o que mais preocupa o eleitor que estará nas urnas em outubro. Ainda assim não deixa de ser sintomático que na busca por um novo mandato o presidente tenha reunido em torno de si dois personagens ligados ao mensalão: o escândalo de que participou o dono de seu partido Valdemar Costa Neto, condenado à cadeia por corrupção no governo do PT, e agora o mensalão do Democratas, no qual o neoaliado Arruda foi filmado à luz do dia embolsando dezenas de milhares de reais em propina.