Antes do início oficial da campanha, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) tinham estratégias bem definidas para a corrida presidencial. O plano do petista era apostar na pauta econômica, ressaltando os números de seus oito anos de mandato, nos quais, como gosta de repetir, houve crescimento econômico com inclusão social, além de responsabilidade com as contas públicas.
Acossado pelos efeitos das crises sanitária e econômica, Bolsonaro previa de início lançar um pacote bilionário de benefícios — a fim de recuperar popularidade entre os mais pobres e a classe média e atenuar sua propalada desvantagem no debate econômico — e rememorar as denúncias de corrupção contra Lula e o PT, com o objetivo de insuflar o antipetismo.
Com duas semanas de campanha, os dois líderes das pesquisas foram obrigados a ajustar suas táticas. Embalado por bons dados colhidos na economia, Bolsonaro resolveu apostar mais no debate nessa área, saindo de uma posição defensiva e tentando ocupar o centro do tablado. Nessa ofensiva, ele tem a seu favor, entre outros, a recuperação do emprego e o crescimento do PIB no segundo trimestre em nível acima do projetado pelos economistas.
Lula, que contava com o desempenho da economia como seu cabo eleitoral, agora está apreensivo e teme que o rival ganhe pontos nessa seara. Pode ser só coincidência, mas, como as coisas se mostram mais difíceis do que se pensava anteriormente no partido, o ex-presidente e seus correligionários decidiram entrar no debate de um tema que, antes, pretendiam evitar: a corrupção.
A ordem agora é relembrar as acusações de rachadinha contra a primeira-família da República e pegar carona na reportagem do UOL que detalhou a compra de imóveis com dinheiro vivo por Bolsonaro, seus filhos, irmãos e ex-mulheres.
A um mês da votação, a realidade se impôs às duas candidaturas, obrigando-as a corrigir rotas. Prova disso é que na semana passada o eleitor testemunhou Lula, que passou 580 dias preso, fazendo acusações de corrupção, e Bolsonaro, que já se disse um completo ignorante sobre o assunto, recitando dados da economia.