O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é considerado o favorito para suceder Lula nas urnas quando o presidente não quiser ou não puder mais concorrer. Escolhido pelo chefe para enfrentar Jair Bolsonaro em 2018, quando acabou derrotado no segundo turno, Haddad consolidou sua posição na linha sucessória no ano passado, quando a economia cresceu três vezes mais do que o projetado inicialmente pelo mercado e a agenda econômica avançou no Congresso, aproximando o ministro de integrantes da cúpula do Legislativo. No saldo do ano, o titular da Fazenda acumulou prestígio entre políticos, empresários e o mundo das finanças.
Já o chefe da Casa Civil, Rui Costa, que também sonha substituir Lula nas urnas, enfrentou um 2023 extremamente difícil. Ele teve a demissão pedida pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, construiu uma fama de “trator” e “troglodita” na Esplanada dos Ministérios e ainda colecionou trombadas com colegas de governo, tornando-se o principal contestador de Haddad e, pelo conjunto da obra, um dos quadros mais detestados da Praça dos Três Poderes.
Volatilidade
Hoje, o quadro é diferente. Como conta uma reportagem da nova edição de VEJA, Rui Costa converteu antigos rivais em aliados de ocasião, como o próprio Lira, ampliou seu raio de influência no governo, ganhou força como articulador político e ainda recebeu elogios públicos de Lula, até porque defende a cartilha populista do chefe.
Já Haddad enfrenta um momento de dificuldade. A agenda econômica sofreu uma série de derrotas no Congresso em 2024. Por pressão do presidente e de Rui Costa, as metas fiscais de 2025 e 2026 foram afrouxadas. Um certo otimismo que havia na economia no ano passado deu lugar à apreensão e à desconfiança crescente de que o ministro não conseguirá ajustar as contas públicas. Lula, com o apoio do chefe da Casa Civil, é quem mais mina a confiança em Haddad, sobretudo quando repete a tese de que precisa ser convencido da necessidade de corte de gastos.
Na quinta-feira, 18, Haddad até anunciou um bloqueio de 15 bilhões de reais no Orçamento deste ano para garantir o cumprimento da meta de 2024. No campo da política, foi uma forma de dizer que ainda tem as rédeas da política econômica, mas a medida não acaba com a dúvida sobre qual caminho o presidente quer seguir — o de mais gastos, como defende Rui Costa, ou de revisão de despesas, prescrito pelo titular da Fazenda.
Escolha
A disputa sobre os rumos da política econômica reflete o duelo pela sucessão de Lula dentro do PT. Haddad continua como favorito ao posto e goza de mais simpatia em Brasília e São Paulo. Já Rui Costa, fortalecido nos últimos tempos, conta com uma cartada bem específica: ele não se importa com sua rejeição entre colegas e políticos, porque sabe que só Lula pode ungi-lo candidato ao Planalto, exatamente como fez com Dilma Rousseff. A tensão entre os ministros será permanente.