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“Ainda falta um líder”, diz Paulo Hartung sobre eleição de 2022

'Guru' de nomes da terceira via, como Sergio Moro e Rodrigo Pacheco, o ex-governador capixaba aposta no crescimento de uma alternativa moderada até o pleito

Oferecimento de Atualizado em 4 jun 2024, 13h16 - Publicado em 26 nov 2021, 06h00
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  • Com 39 anos de carreira política e uma lista de cargos públicos que inclui os de deputado, prefeito, senador e governador do Espírito Santo (por três mandatos), o economista Paulo Hartung, de 64 anos, virou uma espécie de guru das candidaturas que buscam se cacifar para tentar romper a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, líderes da corrida ao Planalto. Depois da larga experiência na vida pública, o capixaba, que abriu mão de tentar a reeleição ao governo em 2018, se dedica a entidades do terceiro setor, como os movimentos RenovaBR e Todos Pela Educação. Não é exagero dizer que ele ocupa hoje uma posição de mentor de políticos, inclusive de vários nomes cogitados para representar a terceira via, como Luciano Huck, Sergio Moro (Podemos) e Rodrigo Pacheco (PSD) (leia as reportagens nas págs. 28 e 32). Em entrevista concedida em São Paulo, Hartung analisa a perda de oportunidades pelas quais o Brasil atravessa na área ambiental, critica os efeitos nefastos da polarização no debate político, mas demonstra confiança no futuro. Na opinião dele, existe um ambiente favorável para a consolidação de uma linha política moderada — o que, acredita, ainda não ocorreu por falta de uma liderança clara.

    O primeiro levantamento eleitoral feito após a filiação de Moro mostrou o ex-juiz com 10,7% das intenções de voto. Isso indica que ele pode ser o nome da terceira via? Isso indica uma outra coisa: que tem um consumidor político ávido por outros produtos, por alternativas no debate sobre o futuro do Brasil. Indicações um pouco mais profundas só iremos ter com o passar dos meses.

    Como foi sua aproximação com Moro? Ele e Luciano Huck tiveram contato em Davos (2020). Depois, esse contato se desdobrou comigo lá atrás, já tem muito tempo.

    O senhor está na campanha dele? Não, sou um brasileiro ajudando a ver se bota de pé uma alternativa que quebre, no bom sentido, a polarização. Se eu sair dessa posição, acho que não ajudo.

    O senhor é visto como uma espécie de “guru” da terceira via. Por que isso acontece? Se você tem uma polarização em uma disputa política, o produto disso é o empobrecimento da discussão sobre o futuro do país. Trazer alternativas para o debate significa a possibilidade de o país olhar os seus problemas em profundidade. Acho que, na encruzilhada entre o fácil da demagogia, do populismo e da visão de curto prazo, e o certo, infelizmente o Brasil tem enveredado pelo caminho fácil. Sou procurado porque fiz uma trajetória na vida pública bem-sucedida e que foi pelo caminho certo. Disputei oito eleições, exerci oito mandatos e deixei uma marca positiva. É uma vida longa na área pública e em experiências privadas que treina a gente. Eu sou uma pessoa aberta para isso, forjada nos movimentos sociais, na reorganização do movimento estudantil, de muita negociação.

    Por que o populismo tem vencido? A polarização empobrece o debate, e você não enxerga onde estão os desafios e as oportunidades. Tem um desafio na educação brasileira? Tem. É dinheiro? Ouso dizer que não. É política pública. Nós quase dobramos o dinheiro na educação como proporção do PIB e o ponteiro nosso no Pisa (sistema internacional de avaliação) andou pouquinho. Estamos em uma sociedade em acelerada transformação por causa do impacto das novas tecnologias e precisamos ter um capital humano qualificado. São discussões que precisamos ter, mas a polarização esconde isso, fica nos ataques pessoais.

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    “A polarização empobrece o debate, e você não enxerga onde estão os desafios e as oportunidades. Quando olhamos para a eleição de 2018, vemos que o Brasil não foi discutido”

    Quais são os principais prejuízos para o país com essa política de extremos? Todo o modelo de retomada da economia europeia é verde, buscando a descarbonização. Trata-se de um tema que gera muitas oportunidades para o Brasil. Ou a gente discute isso agora ou vai ser outro bonde da história que nós iremos perder. Lutar para ter uma alternativa fora dessa polarização é fazer um gesto de amor aos brasileiros. Uma campanha polarizada vai fazer esse debate? Não vai. Quando olhamos para 2018, vemos que o Brasil não foi discutido.

    Mas não seria preciso que essa alternativa já tivesse suas propostas definidas? Entre os grupos polarizados, as bandeiras já estão colocadas. Se a gente olhar a pauta da política e do jornalismo político seis meses atrás, era como se estivesse passando da hora de tomar uma decisão. Mas essa emergência não bate com a da sociedade. O eleitor demora mais a botar a chuteira e a entrar em campo. As decisões estão sendo tomadas muito em cima da hora.

    Não há um risco dessa terceira via ficar para trás? Há uma eternidade de tempo até as convenções partidárias. Outro dia, o senador Rodrigo Pacheco estava no DEM. Hoje ele está no PSD. Sergio Moro não tinha filiação partidária. Hoje está no Podemos. O MDB está falando da Simone Tebet. O Ciro Gomes está andando o Brasil inteiro. O importante no momento é que esses nomes se coloquem. Vamos ver, quando chegar abril, quem é que conseguiu falar e ser ouvido na Rocinha, na Zona Leste de São Paulo, no Brasil Central, na Amazônia. O desafio é esse.

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    A recente confusão das prévias do PSDB expôs ainda mais a falta de unidade do partido. Que impacto isso pode ter na construção da terceira via? Essas prévias foram realizadas na hora errada. O certo seria em março, abril. O brasileiro vai entrar na agenda eleitoral muito lá na frente. É só olhar para o Chile, o eleitor entra na última hora. Fazer uma prévia agora é uma atitude precipitada, porque os pré-candidatos precisam de mais tempo para ver quem ganha musculatura junto à população.

    Os tucanos correm o risco de ficar fora do jogo? Era melhor que as lideranças do PSDB continuassem juntas com as outras, com Pacheco, com Moro, com o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, testando para ver quem consegue fazer uma linha direta com o Brasil de carne e osso. Seria melhor que Eduardo Leite e João Doria continuassem pré-candidatos, expondo suas ideias, para que mais à frente se pudesse ver quem tem capacidade de representar o pensamento do “centro expandido”, onde estão os liberais reformistas e até membros da centro-esquerda que reformularam a sua concepção de Estado e de economia.

    O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), disse no programa Amarelas On Air, de VEJA, que não existe terceira via, porque ela tem dez nomes e ninguém abre mão de ser candidato. Quem já está posicionado, que é o caso dele, opera a favor da polarização. Daí a dizer que isso é uma análise do quadro tem uma distância muito grande. Aliás, um pouco da análise política no Brasil virou torcida. A pergunta é: “Por que o incumbente da vez (o presidente Jair Bolsonaro) precipitou o debate eleitoral?”. Normalmente, o presidente segura o processo, para poder governar. Estamos num processo eleitoral que nem sabemos dizer quando começou.

    Como vê o desafio de acomodar tantos nomes e até tantos egos em um projeto alternativo? Acho legítimo que quem tem pretensão coloque seu nome, exponha as suas ideias, tente fazer esse fio terra com a sociedade brasileira, descer nessa sociedade complexa que é o Brasil. Agora, quando chegar lá na frente, precisamos derrubar o muro das vaidades e o dos projetos pessoais. Temos capacidade de derrubar esses dois muros? Temos, em razão do perrengue que a sociedade vem passando. Veja tudo o que vem acontecendo em razão desse desencontro do país. A população empobrecendo, perdendo renda e emprego. Como a gente vem de uma experiência muito dura, está mais fácil derrubar os muros.

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    Quem são as pessoas que estão hoje fomentando esse debate? Tem gente de todas as áreas. Nunca participei de tantas reuniões na minha vida. Pessoas muito preocupadas com o presente e com o futuro do país. Gente do comércio, da indústria, da área de serviços, da agricultura, da sociedade civil, da academia. Em 2019, quando começaram os sinais de descontrole na criminalidade na região amazônica, houve um movimento de CEOs de empresas, e não tinha essa tradição no Brasil, de produzir um documento colaborativo e levar o governo a discutir ações que precisavam ser feitas. No início da pandemia, tivemos o envolvimento da sociedade levantando recursos para alimentar pessoas, adotando unidades de saúde, respiradores nos hospitais. Agora, na COP26, foi inédita a mobilização no Brasil, buscando mostrar ao mundo uma sociedade muito conectada com a questão da sustentabilidade. A presença brasileira em Glasgow foi importante, a sociedade se organizou e conseguiu fazer uma redução de danos, mas ainda há ações concretas a serem feitas.

    “Por que Bolsonaro precipitou o debate eleitoral? Normalmente, o presidente segura isso, para poder governar. Estamos num processo eleitoral que nem sabemos dizer quando começou”

    Qual é prioridade do momento? O Brasil precisa de um líder, de uma liderança responsável, sem visão de curto prazo. E aí a reeleição nos atrapalha muito, não tem jeito de não pôr isso na mesa. Nós precisamos de uma liderança que, chegando ao governo, não olhe para as próximas eleições, olhe para o potencial que este país pode realizar.

    Dentre os nomes colocados, algum tem esse papel de liderança? Sempre que o mundo precisou de líderes, eles não fizeram as coisas sozinhos, tiveram times extraordinários ao lado. Agora, esses líderes brotaram como? Como combustão de um processo social em curso. Por isso nós estamos no RenovaBR, para ensinar a falar em público, a convencer as pessoas, a fazer uma negociação, entender que o ótimo é inimigo figadal do bom, aprender a negociar, sentar numa mesa. Não se nasce sabendo essas coisas. Mas um líder diferenciado é fruto desse treinamento e das circunstâncias que vão aparecendo.

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    Quais conselhos o senhor costuma dar aos presidenciáveis com quem tem falado ultimamente? Não dou conselho, eu converso. Tenho uma experiência, mas as pessoas com quem converso me trazem outras coisas. Há uma troca de conhecimentos. Eu e todos que me procuraram, que jogaram uma ponte para conversar, sentamos e conversamos, trocamos ideias. Porque acho que o importante é que pontes sejam construídas para ali na frente haver mais facilidade para uma convergência. Em um momento como este, não dá para entrar fragmentado. Precisamos de uma candidatura única. E isso se consegue através de conversa.

    Publicado em VEJA de 1 de dezembro de 2021, edição nº 2766

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