O jornal americano The Washington Post perdeu cerca de 250.000 assinantes, ou 10% do total de leitores pagantes, depois de se recusar, na semana passada, a apoiar um candidato à Casa Branca nas eleições deste ano. A disputa entre a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump tornou-se a primeira corrida presidencial desde 1976 em que o veículo desistiu de endossar uma campanha.
De acordo com o repórter da NPR David Folkenflik, da sexta-feira, 25, até a terça-feira, 29, o Post viu sua base de 2,5 milhões de clientes encolher em 10%.
Os dados são baseados no número de e-mails de cancelamento que foram enviados, de acordo com uma fonte do jornal, embora o painel de assinantes não esteja mais visível para os funcionários. O Post não comentou o caso.
Defesa de Bezos
O êxodo continuou mesmo depois de o proprietário do jornal, o CEO da Amazon, Jeff Bezos, defender a decisão como parte de um esforço para restaurar a confiança do público na mídia americana.
“Em pesquisas sobre confiança e reputação, jornalistas e a mídia têm caído regularmente perto do fundo do poço, muitas vezes logo acima do Congresso”, afirmou ele. Neste ano eleitoral, porém, segundo ele observou, a imprensa ficou abaixo do Congresso, de acordo com uma pesquisa da Gallup.
“Nossa profissão agora é a menos confiável de todas. Algo que estamos fazendo claramente não está funcionando”, escreveu ele.
Uma pesquisa publicada pelo jornal americano The New York Times no fim de semana descobriu que os americanos confiam menos na grande mídia do que nas redes sociais. Além disso, 55% dos entrevistados disseram que veículos tradicionais fazem mal à democracia.
“Endossos presidenciais (de jornais) não fazem nada para inclinar a balança de uma eleição. O que eles realmente fazem é criar uma percepção de parcialidade. Uma percepção de não independência”, concluiu Bezos.
Polêmica
O famoso jornalista do Post Bob Woodward, autor do prestigiado Todos os Homens do Presidente e do mais recente Medo: Trump na Casa Branca, disse na terça-feira que discorda da decisão do jornal, acrescentando que o veículo era “uma instituição que faz reportagens sobre Donald Trump e o que ele fez, com apoio da página editorial”.
A decisão do Post, porém, segue uma tendência crescente no setor jornalístico, que tem sofrido nas últimas décadas com a perda de receita e leitores.
O USA Today, de propriedade da Gannett, com a quinta maior circulação impressa e a quarta maior circulação de assinantes digitais dos Estados Unidos, disse na terça-feira que não endossaria um candidato. O mesmo vale para os mais de 200 jornais locais sob seu guarda-chuva.
“Por que estamos fazendo isso? Porque acreditamos que o futuro da América é decidido localmente — uma corrida de cada vez”, disse uma porta-voz do USA Today, Lark-Marie Antón, em uma declaração ao portal de notícias Politico. “Nosso serviço público é fornecer aos leitores os fatos que importam e as informações confiáveis de que precisam para tomar decisões informadas.”
Os jornais que decidiram não apoiar nenhum candidato presidencial disseram que ainda planejam fazer recomendações políticas em níveis local e estadual.