Por todo o velho continente, políticos escracham a União Europeia (UE), mas a Macedônia está no contrafluxo. Nessa ex-província da Iugoslávia, o primeiro-ministro, Zoran Zaev, tem recorrido a todos os expedientes possíveis para colocar seu país — dono de área e população semelhantes às de Sergipe — no grupo de 28 Estados-membros. Em referendo realizado em 30 de setembro, 91% dos votantes posicionaram-se a favor da entrada na UE e na Otan, a aliança militar do Ocidente. No entanto, em razão do baixo quórum — só 36% do eleitorado compareceu às urnas —, a consulta foi invalidada. Zaev então disse que convencerá os deputados da oposição a sacramentar a entrada nos dois blocos pela via do Congresso. Ameaçou, para o caso de isso não dar certo, convocar eleições para reconfigurar o Parlamento e, assim, tentar outra vez o ingresso na UE e na Otan.
Toda essa teimosia se explica porque a Macedônia teria muito a ganhar financeiramente se entrasse no bloco, como aconteceu com Portugal e Espanha. “Quando um país pequeno ingressa na UE, seu governo consegue acessar fundos consideráveis. Leva muito mais dinheiro do que aporta”, diz o economista e sociólogo Victor Roudometof, da Universidade do Chipre. Após o colapso da Iugoslávia, em 2003, a economia da Macedônia não vingou. Outro ponto que emperra a entrada do país na UE é seu nome. A Grécia, que tem uma região chamada Macedônia, só aceitará a adesão do vizinho se ele passar a se chamar Macedônia do Norte. Os nacionalistas locais acham a exigência ultrajante.
Publicado em VEJA de 10 de outubro de 2018, edição nº 2603