Curvando-se ao aumento exponencial de casos confirmados nos últimos dias, o presidente russo Vladimir Putin foi à TV dizer que sim, a Rússia precisa se preparar para conter a disseminação do novo coronavírus — isso depois de passar semanas afirmando que o contágio estava “sob controle”. Também decretou o fechamento de cinemas e bares e apelou à população: “Acreditem, o mais seguro é ficar em casa”. Como Putin é Putin, teve um showzinho.
O presidente desvestiu-se da cintura para cima na frente das câmeras, envergou uniforme de proteção química e capacete com respirador (em amarelo-ouro, porque ele é diferente), e, arriscando-se além do recomendado para quem tem 67 anos, visitou vítimas da Covid-19 internadas no Hospital Kommunarka, em Moscou.
Uma das consequências do novo posicionamento do governo é o adiamento, também anunciado por Putin, do plebiscito sobre uma mudança na Constituição — já aprovada de lavada no Parlamento — que lhe permitirá continuar sendo reeleito para a Presidência pelo menos até 2036. A votação estava prevista para 22 de abril, e a insistência em manter a data era considerada, inclusive, o principal motivo para a demora do governo em tentar deter a doença. Oficialmente, a Rússia, país de 145 milhões de habitantes, tem menos de 700 infectados e uma morte. O prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, que coordena o combate à pandemia, acredita que os números reais sejam bem mais altos.
Quanto? “Ninguém sabe”, admite.
Publicado em VEJA de 1 de abril de 2020, edição nº 2680