Depois de semanas de cortes de energia e de acesso limitado à água, dezenas de milhares de venezuelanos foram às ruas neste sábado, 6, para apoiar o líder da oposição Juan Guaidó e protestar contra o presidente Nicolás Maduro, acusado de arruinar a economia do país sul-americano.
Os venezuelanos, que já sofrem com a hiperinflação e com a escassez generalizada de alimentos e medicamentos, dizem que a crise caótica no país piorou ainda mais no último mês, quando cortes de energia elétrica deixaram vastas áreas do território venezuelano no escuro por dias, interrompendo também o fornecimento de água e de serviços de telefonia celular.
Guaidó, que lidera a Assembleia Nacional controlada pela oposição e é reconhecido como chefe de Estado legítimo pela maioria dos países ocidentais – inclusive Brasil e Estados Unidos -, convocou a mobilização deste sábado para marcar o início do que chama de uma nova onda de protestos “definitivos” para derrubar Maduro. Ele invocou a Constituição para assumir a presidência interina em janeiro, denunciando Maduro como um “usurpador” depois do início de seu segundo mandato na esteira de uma eleição nacional, em 2018, que é amplamente vista como fraudulenta.
“Faremos um grande encontro mundial aqui de líderes para falar da situação na Venezuela, da emergência humanitária, da solução e das alternativas de mudança. De novo, não estamos sozinhos”, disse Guaidó diante de milhares de simpatizantes no leste de Caracas.
Na capital, milhares de apoiadores da oposição se reuniram em um ponto de encontro no distrito de El Marques, na região leste da cidade. Os manifestantes disseram que suas casas estavam sem água por dias e que muitos precisaram retirá-la de canos não confiáveis ou de riachos vindos da montanha de Avila, ao lado de Caracas. Em um determinado ponto, a multidão gritava: “A água se foi, a energia se foi e agora, Maduro, você precisa ir também.”
A Assembleia Nacional, em sua conta no Twitter, diz que dois de seus parlamentares foram presos por autoridades no protesto em Maracaibo e pedia a liberação imediata de ambos. O Ministério da Informação da Venezuela não comentou.
Pró-Maduro
Maduro, que tem o apoio das Forças Armadas e de aliados militares que incluem Rússia e China, ironiza Guaidó pintando-o como uma marionete dos Estados Unidos e diz que ele enfrentará a Justiça. O Partido Socialista promoveu uma marcha rival em Caracas também neste sábado, mas o comparecimento foi pequeno, com apenas algumas centenas de pessoas reunidas vestindo camisetas e bonés vermelhos tocando tambores e dançando salsa.
Cuba
O assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, acusou Cuba neste sábado. “O regime cubano serviu de cúmplice principal para o roubo por parte de Maduro da riqueza e dos recursos venezuelanos e é coparticipante na crise humanitária da Venezuela”, declarou no Twitter.
O assessor afirmou, ainda, que os EUA estão “preparados para exigir responsabilidades a qualquer país ou empresa que facilite a repressão do povo venezuelano”.
O Departamento do Tesouro americano anunciou na sexta-feira, 5, sanções econômicas contra 34 cargueiros dedicados ao transporte de petróleo da Venezuela a Cuba, em uma nova medida de pressão contra o governo de Maduro. “Cuba foi uma força de fundo alimentando o descenso da Venezuela para a crise. O Tesouro está tomando ações contra embarcações e entidades que transportam petróleo e oferecem uma ajuda vital para manter o regime ilegítimo de Maduro”, declarou o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, em comunicado.
As sanções impostas pelos EUA afetam 34 cargueiros da PDVSA e as empresas Ballito Shipping Incorporated, com sede na Libéria, e Proper In Management Incorporated, com base na Grécia, dedicadas ao transporte de petróleo venezuelano a Cuba.
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, qualificou neste sábado como “ato de extraterritorialidade” e “soberba imperial” as novas sanções dos EUA contra os envios de petróleo venezuelano à ilha, consideradas uma escalada na pressão desse país sobre Maduro. O governo venezuelano anunciou que recorrerá às vias jurídicas correspondentes para responder às sanções impostas pelos Estados Unidos.
Em comunicado divulgado pelo ministro de Relações Exteriores, Jorge Arreaza, o governo de Maduro rejeitou “categoricamente” a medida e “advertiu que responderá pelas vias jurídicas correspondentes diante das mais recentes pretensões da nefasta administração de (Donald) Trump”.
“É paradoxal que em um país-membro da Organização Mundial do Comércio, que se faz chamar defensor dos princípios liberais, viole os mais básicos direitos econômicos e comerciais, pretendendo prejudicar, não só os povos de Venezuela e Cuba, mas empresas e associações comerciais que deveriam gozar de amparo legal internacional”, acrescentou.