O partido socialista da Venezuela instalará nesta terça-feira um congresso controlado por aliados do presidente Nicolás Maduro. A oposição, liderada por Juan Guaidó, terá um comitê para enfrentar a Assembleia Nacional organizada pelos socialistas depois que a oposição boicotou as eleições legislativas realizadas em 6 de dezembro.
O novo congresso será chefiado pelo ex-chefe de gabinete de Maduro, Jorge Rodriguez, que no passado liderou conversações patrocinadas internacionalmente com a oposição. Diosdado Cabello, considerado o segundo homem mais poderoso da Venezuela, vai liderar o bloco do partido socialista. Maduro, ao anunciar a estrutura de liderança na segunda-feira, pediu ao novo congresso que busque o diálogo com a oposição e também foque em medidas econômicas urgentes.
A mudança no poder da última instituição do país que não era controlada pelos socialistas representa uma consolidação do poder de Maduro. No início de 2019, o presidente estava em uma posição de vulnerabilidade, uma vez que os Estados Unidos e outas potências reconheceram Guaidó como líder legítimo da Venezuela, argumentando que Maduro era um ditador que supervisionou o colapso econômico do país.
Nos últimos cinco anos, a oposição lutou para enfraquecer o poder do presidente venezuelano após uma vitória expressiva em 2015 nas eleições parlamentares. A mudança no comando do congresso coloca um fim simbólico a essa disputa. Apesar disso, em termos práticos, o controle do parlamento dará aos socialistas no poder pouca capacidade de melhorar uma economia debilitada cercada por sanções. E os aliados de Maduro na Suprema Corte do país já há anos neutralizaram a legislatura da oposição, derrubando todas as suas medidas.
Diferentemente do governo Trump, partidários internacionais de Guaidó, como a União Europeia, não chegaram a um acordo sobre se a oposição ainda controla o parlamento por direito. A medida também gerou divergências na coalizão de Guaidó, com a maioria se abstendo de votar na extensão e diversos legisladores anunciando que parariam de atuar após 5 de janeiro.
Outra preocupação para Guaidó é a posse do novo presidente eleito dos EUA, Joe Biden, que acontecerá em 20 de janeiro. Ainda que tenha rotulado Maduro por repetidas vezes como ditador e prometido buscar eleições livres na Venezuela, Biden não apresentou detalhes das políticas que planeja implementar para a nação rica em petróleo. Um representante da equipe de Biden não respondeu imediatamente na segunda-feira quando questionado se seu governo continuaria reconhecendo Guaidó como chefe do parlamento.
Maduro chama Guaidó de fantoche apoiado pelos EUA que busca destituí-lo em um golpe para controlar as consideráveis reservas de petróleo da Venezuela. Ele disse que as eleições de 6 de dezembro tiveram as mesmas condições eleitorais que a votação de 2015 vencida pela oposição. O presidente, que mantém o apoio das forças armadas e aliados como Cuba, Rússia e Irã, desde então impediu legisladores da oposição de se reunirem na sede do Congresso.
Guaidó prometeu uma “ofensiva diplomática” para garantir que o maior número possível de países se recusasse a reconhecer a legitimidade do congresso organizado pelos socialistas e convocou seus apoiadores a tomarem as ruas. “O parlamento nacional não será interrompido até que tenhamos eleições livres na Venezuela”, disse ele em uma mensagem de vídeo postada no Twitter no domingo.