A Venezuela reforçou bases militares próximas à fronteira com a Guiana, dois meses depois de Caracas reivindicar a região de Essequibo, rica em minérios e petróleo. A informação foi confirmada nesta sexta-feira, 9, por imagens de satélite compartilhadas pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), nos Estados Unidos. A movimentação na divisa contraria as promessas anteriores do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que disse que não tomaria medidas militares contra a Guiana.
“Sob pressão internacional para resolver pacificamente a crise, nomeadamente do peso pesado sul-americano Brasil, os presidentes Maduro e Irfaan Ali da Guiana reuniram-se em São Vicente e Granadinas em 14 de dezembro de 2023 e assinaram a Declaração de Argyle”, afirmou o CSIS em relatório. Ambos os países concordaram em não ameaçar o uso da força um contra o outro para evitar incidentes no terreno que conduzissem a tensões e em estabelecer uma comissão conjunta “para tratar de questões conforme acordado mutuamente”.
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A sinalização, no entanto, não saiu do papel. Os satélites mostram que, enquanto diplomatas de ambos os países se encontravam para impedir a escalada do conflito, militares venezuelanos enviaram tanques e barcos de patrulha com mísseis para a base militar fronteiriça da Ilha Anacoco, no Rio Cuyuni, à medida que novas partes da floresta eram demolidas para construções. A ação, segundo o vice-diretor do programa das Américas do CSIS, Christopher Hernandez-Roy, seria parte de “uma política dúbia” de Maduro.
“Em comparação com 2021, a recente imagem de satélite de 13 de janeiro de 2024 também revela o início do projeto de expansão na base com sinais de trânsito rodoviário, limpeza significativa do terreno sugerindo planejamento de edifícios adicionais ou parque de veículos, e a construção de um pequeno posto de abastecimento – uma indicação de futuras construções e presença de veículos militares”, alerta o centro americano.
Rixa por Essequibo
Essequibo, de 160 mil km², compõe 74% do território da Guiana, mas a Venezuela alega ser a proprietária legítima da área. Em disputa há mais de um século, a região pertence oficialmente à Guiana desde 1899, mas o líder venezuelano, Nicolás Maduro, propôs um referendo que reacendeu o debate. Em 4 de dezembro, 95,9% dos eleitores venezuelanos aceitaram incorporar o território ao mapa do país.
Estima-se que, por lá, existam reservas de 11 bilhões de barris. A maior parte estaria offshore, ou seja, no mar. Por causa das reservas fósseis, a Guiana tornou-se o país sul-americano que mais cresce nos últimos anos.
Acredita-se que a recente movimentação do líder de Caracas teria como objetivo fins eleitorais. A economia da Venezuela está em maus lençóis, com o país fechando o ano com inflação em 193%. A conquista de Essequibo ou até mesmo o sinal verde da Guiana em dividir as receitas do petróleo impulsionariam o crescimento econômico.
Apesar de atuar como mediador diplomático, o Brasil concluiu na semana passada o envio de 28 veículos blindados para reforçar a segurança na tríplice fronteira com Venezuela e Guiana.