Unicef diz que 64 mil crianças foram mortas ou feridas na guerra em Gaza
Chefe do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) instou Israel a respeitar direito internacional e garantir 'proteção total da vida de todos os civis'

A diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Catherine Russell, afirmou nesta quarta-feira, 8, que ao menos 64 mil crianças foram mortas ou feridas na guerra na Faixa de Gaza, que completou dois anos na véspera. No panorama geral, mais de 67 mil palestinos foram mortos — entre eles, 453 por fome, incluindo 150 crianças — e 169.600 ficaram feridos desde a eclosão do conflito, mostram dados do Ministério da Saúde de Gaza.
“Por mais de 700 dias, crianças em Gaza foram mortas, mutiladas e deslocadas em uma guerra devastadora que é uma afronta à nossa humanidade compartilhada. Os ataques israelenses na Cidade de Gaza e em outras partes da Faixa de Gaza continuam. O mundo não pode – e não deve – permitir que isso continue”, disse ela em declaração.
“Nos últimos dois anos, impressionantes 64.000 crianças foram mortas ou mutiladas em toda a Faixa de Gaza, incluindo pelo menos mil bebês. Não sabemos quantos mais morreram devido a doenças evitáveis ou estão enterrados sob os escombros”, acrescentou.
Além disso, Russell alertou que “a fome persiste na Cidade de Gaza e está se espalhando para o sul, onde as crianças já vivem em condições terríveis” e salientou que “a crise de desnutrição, especialmente entre os bebês, continua chocante”. Ela indicou, ainda, que a falta de uma alimentação duradoura provocou “causaram danos duradouros ao crescimento e desenvolvimento das crianças” no enclave palestino.
“A necessidade de um cessar-fogo não poderia ser mais urgente. Desde a manhã de sábado, pelo menos 14 crianças foram mortas, enquanto intensos bombardeios de Israel continuam a atingir a Cidade de Gaza e outras áreas”, continuou a chefe da Unicef, que também elogiou “todos os esforços para acabar com a guerra e traçar um caminho para a paz em Gaza e na região”.
“Qualquer plano deve levar a um cessar-fogo, à libertação de reféns e à passagem segura, rápida e desimpedida de ajuda humanitária – através de todas as travessias e rotas disponíveis – em uma escala compatível com as necessidades de todos os habitantes de Gaza, especialmente as crianças”, afirmou Russell.
A diretora executiva também instou Israel a respeitar o direito internacional e garantir “proteção total da vida de todos os civis”, frisando que “negar assistência humanitária a civis é inequivocamente proibido”. Ela apontou que “os princípios de distinção, proporcionalidade e precaução devem orientar todas as ações militares e os civis que não podem, não o fazem ou optam por não evacuar as áreas de combate continuam sendo civis e devem ser sempre protegidos”.
“Cada criança morta é uma perda insubstituível. Para o bem de todas as crianças em Gaza, esta guerra deve terminar agora”, concluiu.
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Crianças órfãs e amputadas
Acredita-se que 40 mil crianças tenham perdido um ou ambos os pais, segundo o Escritório Central de Estatísticas da Palestina, que definiu a situação como “a maior crise de órfãos da história moderna”. Além disso, dados de março do Unicef revelaram que entre 3.000 e 4.000 crianças em Gaza tiveram um ou mais membros amputados. O enclave palestino tornou-se o lugar do mundo com mais menores de idade mutilados. Quase 658.000 crianças em idade escolar e 87.000 estudantes universitários estão sem acesso à educação, já que os centros de ensino foram destruídos ou são usados como abrigo.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, estima que 1,8 tonelada de ajuda humanitária entrou em Gaza desde os ataques do Hamas. O número, contudo, é insuficiente. Em agosto, a Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC), um órgão apoiado pelas Nações Unidas e por outras entidades, declarou estado de fome generalizada em Gaza, o primeiro a afetar o Oriente Médio. Na época, mais de meio milhão de pessoas enfrentavam condições “catastróficas” caracterizadas por “fome, miséria e morte”. Hoje, 30% da população de Gaza passa dias sem comer, calcula o Programa Mundial de Alimentos (PMA).
Tentar acessar suprimentos também se tornou perigoso. Quase 1.900 palestinos foram mortos enquanto buscavam ajuda desde 27 de maio, quando a Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglÊs) iniciou as operações em Gaza, indica o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH, na sigla em inglês). Apoiado por Israel e pelos Estados Unidos, o grupo privado americano é condenado pela ONU e por organizações humanitárias, que o acusam de transformar a fome em arma de guerra e de ineficácia. As críticas também abrangem o uso de seguranças armados nos centros de distribuição.