O último Museu Lenin da Europa, na Finlândia, fechará as portas em 3 de novembro, anunciou o diretor da instituição, Kalle Kallio, nesta quarta-feira, 30, à agência de notícias AFP. O encerramento tem um motivo: o local trocará de nome, passando a chamar-se Nootti, o Museu das Relações Finlandesas-Russas. Em funcionamento desde 1926, na cidade de Tampere, o museu fazia referência ao líder bolchevique Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido como Lenin.
Em entrevista, Kallio disse que o nome não “refletia a história” que procura transmitir, acrescentando: “algumas pessoas acreditam que este é um tipo de templo maligno por causa do seu nome”. Em 2014, o local passou para administração da Finnish Labour Museum Association, dando início a “uma nova era de reinvenção”, de acordo com o portal do Nootti.
Dois anos mais tarde, a instituição mudou de foco e passou a contar a história da União Soviética, que entrou em colapso em 1991, não mais de Lenin. Apesar disso, a correlação com o comunista “se tornou um fardo”. O problema tornou-se ainda maior após a invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022.
“Temos muitos visitantes, mas não por exemplo escolas, pois os professores não querem perguntar aos pais se podem levar as crianças aqui”, explicou ele à AFP.
+ O que tem de especial na ‘biblioteca mais legal do mundo’?
Críticas da Rússia
A notícia sobre a mudança não foi bem recebida na Rússia, onde “espalharam-se notícias alegando que este é outro ato hostil da Finlândia” por ter aderido à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em abril, segundo Kallio. Os rumores também incluíam que “a decisão foi tomada em Washington”.
Em razão dos comentários sobre o fim das atividades do Museu Lenin, o número de visitantes do museu atingiu níveis recordes nas últimas semanas, informou o diretor. A inauguração do Nootti está prevista para 15 de fevereiro de 2025, numa “transição para um novo capítulo na narrativa cultural finlandesa”. O novo site será lançado na virada do ano.
“Nootti é um testamento do comprometimento da Finlândia em entender e contextualizar seu relacionamento com a Rússia. Mergulhando nas profundezas da história transfronteiriça, o museu ilumina o espectro de interações finlandesas-russas, da era soviética aos tempos contemporâneos”, apontou o novo museu em nota.
Além disso, o comunicado destaca que o estabelecimento mantém uma “postura de não envolvimento com o Estado russo ou seus representantes , em alinhamento com a dinâmica predominante da política externa”, por se tratar de “uma instituição comprometida com a integridade e independência acadêmica”. O texto também indica que o “mandato futuro do museu se estende além dos limites da era de Lenin para abranger o continuum dinâmico das relações finlandesas-russas”.
“Em uma era em que a história serve como uma lente através da qual se compreende o presente, a nomenclatura ultrapassada do museu não ressoa mais com seu conteúdo em evolução ou os interesses de seu público. Enquanto o leninismo já dominou o discurso, o foco contemporâneo mudou para temas mais amplos dentro da sociedade russa”, acrescentou o site.