Um novo relatório da Anistia Internacional acusa os governos da União Europeia de serem cúmplices em violações de direitos humanos na Líbia. Segundo o documento, para conter a chegada de imigrantes e refugiados ao continente, a Europa tem enviado fundos para a guarda costeira da Líbia, que os repassa para milícias e contrabandistas de pessoas no país africano.
Entre os fundos fornecidos estão embarcações, financiamentos, além de treinamentos para a guarda costeira líbia, que é responsável por deter os imigrantes que tentam chegar à fronteira da Europa. Esses imigrantes então são enviados a centros de detenções do país comandados pela Diretoria-Geral da Líbia para Combater a Migração Ilegal (DCIM, na sigla em inglês), onde estão sujeitos a “tortura, trabalho forçado, extorsão e assassinatos ilegais”. Estima-se que cerca de 20.000 pessoas estão detidas nesses centros.
A Líbia é a principal via para quem pretende chegar à Europa a partir da África. Por meio do mar Mediterrâneo é possível chegar à costa da Itália e a Malta. Depois que a União Europeia começou a fornecer esses fundos à guarda costeira, a chegada de imigrantes diminuiu acentuadamente, segundo informa a BBC.
“Centenas de milhares de refugiados e imigrantes presos na Líbia estão à mercê das autoridades líbias, das milícias, dos grupos armados e dos contrabandistas, muitas vezes trabalhando perfeitamente juntos para ganhar dinheiro. Dezenas de milhares são mantidos indefinidamente em centros de detenção superlotados, onde são submetidos a abuso sistemático “, disse John Dalhuisen, diretor da Anistia Internacional da Europa.
Segundo o diretor, a União Europeia não só tem consciência desses abusos, como tem sido cúmplice e pediu que as autoridades repensem suas políticas de imigração. O relatório também acusa a guarda costeira líbia de intimidar organizações não governamentais que operam missões de resgate no Mar Mediterrâneo.
Em novembro deste ano, a rede CNN divulgou um vídeo em que mostrava homens negros sendo leiloados como escravos na Líbia. Eles chegavam a ser vendidos por 400 dólares. O vídeo causou consternação no secretário-geral da ONU, António Guterres, que pediu que o caso fosse investigado como possível crime contra a humanidade. Outros países da África também demonstraram indignação com as imagens.