Twitter é acusado de ajudar Arábia Saudita a violar direitos humanos
Rede social, agora conhecida como X, teria concedido dados privados de usuários críticos ao governo saudita
Antes conhecida como Twitter, a rede social X foi acusada formalmente em um processo civil nos Estados Unidos nesta segunda-feira, 4, de contribuir para que a Arábia Saudita cometesse infrações contra os direitos humanos no país. A ação aponta que autoridades sauditas teriam recebido acesso a informações privadas de usuários da plataforma em uma frequência superior que países como Estados Unidos, Canadá e Austrália.
O processo tem como base a infiltração de três agentes sauditas na rede social, sendo eles Ali Alzabarah, Ahmad Abouammo e Ahmed Almutairi. Dois deles teriam se passado por funcionários do antigo Twitter entre 2014 e 2015. Como consequência, as autoridades do país do Oriente Médio teriam recebido acesso à identidade de milhares de usuários anônimos, utilizando as informações privilegiadas para supostamente torturar e deter militantes.
Entre os detidos está o trabalhador humanitário Abdulrahman, que desapareceu à força e foi condenado, em seguida, a 20 anos de prisão. A acusação, liderada por sua irmã, Areej al-Sadhan, atesta que o Twitter teria ignorado a “ampla notificação” sobre vazamento de informações e riscos de segurança.
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O processo indica, ainda, que a empresa de comunicação teria optado por atender aos interesses do governo saudita para estreitar os laços econômicos com o país, um dos seus principais investidores. O Twitter teria atendido solicitações da Arábia Saudita para o acesso de informações privadas em “uma frequência significativamente maior” do que a maioria das outras nações, como Canadá, Reino Unido, Austrália e Espanha, em 2015.
O reino saudita, de acordo com o processo, teria preenchido pedidos de divulgação de emergência (EDRs) da rede social, com o objetivo de confirmar identidades de críticos ao governo. Em caso de comprovação, os documentos enviados pelo Twitter eram utilizados em tribunais contra os dissidentes. Segundo ação judicial, grande parte dos EDRs teriam sido aprovados em menos de 24 horas.
Além disso, os autos revelam que a rede social havia sido fonte de dor de cabeça para o governo saudita em 2013, já que foi utilizada por movimentos democráticos ao longo da Primavera Árabe, movimento antitotalitário que ganhou força no Norte da África e no Oriente Médio.
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Em 2014, Ahmad Abouammo teria iniciado o envio de dados confidenciais de usuários do Twitter à Arábia Saudita. Ele atualmente é considerado um fugitivo pelo FBI, ao lado de Alzabarah e Almutairi. O processo alega que Saud al-Qahtani, um assessor próximo de Mohammed bin Salman, teria recebido uma mensagem de Abouammo, na rede social, afirmando “de forma proativa e reativa” eliminariam “o mal”.
Na última semana, os advogados de Al-Sadhan incluíram novas alegações contra a plataforma, presidida por Jack Dorsey na época dos supostos crimes. A atualização defende que o Twitter teria pleno conhecimento “da campanha maligna” empregada por autoridades sauditas.
“O Twitter estava ciente desta mensagem – enviada descaradamente em sua própria plataforma – ou a ignorou deliberadamente”, destaca o processo revisado.