A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, disse nesta quinta-feira, 29, que vai manter seu controverso plano para aumentar o crescimento econômico, após quase uma semana de caos nos mercados financeiros desencadeada por enormes cortes de impostos.
Um dia depois que o Banco da Inglaterra retomou a compra de títulos, em uma medida de emergência para proteger os fundos de pensão de um colapso parcial, Truss culpou a guerra da Rússia na Ucrânia pela alta na inflação.
“Tivemos que tomar medidas urgentes para fazer nossa economia crescer, fazer o Reino Unido se movimentar e também lidar com a inflação e, claro, isso significa tomar decisões controversas e difíceis”, disse ela à rádio BBC.
“Mas estou preparada para fazer isso como primeira-ministra, porque o que é importante para mim é que nossa economia se mova.”
Truss, ex-ministra das Relações Exteriores do Reino Unido, assumiu o cargo em 6 de setembro depois de vencer a disputa pela liderança do Partido Conservador, tornando-se a quarta premiê em seis anos turbulentos na política britânica. Sua vitória veio com a promessa de acabar com a “ortodoxia do Tesouro” com uma nova política econômica que cortaria impostos e regulamentações, financiada por grandes empréstimos do governo para tirar a economia de anos de crescimento estagnado.
Mas seu plano fiscal, estabelecido pelo ministro das Finanças Kwasi Kwarteng na sexta-feira 23, desencadeou uma crise de confiança no governo, derrubando o valor da libra e dos preços dos títulos do governo e sacudindo os mercados globais.
Ken Griffin, o bilionário norte-americano fundador da Citadel Securities, uma das maiores empresas de criação de mercado do mundo, afirmou estar preocupado com os danos à reputação do Reino Unido.
“É a primeira vez que vemos um grande mercado desenvolvido, em muito tempo, perder a confiança dos investidores”, disse.
Depois de estabelecer 45 bilhões de libras em cortes de impostos não financiados, ela disse que nas próximas semanas serão anunciadas reformas em tudo, desde custos com creches até imigração. Uma declaração fiscal mais completa em 23 de novembro detalhará o custo dos empréstimos e as medidas para reduzir a dívida.
Investidores e economistas disseram que não podem esperar mais oito semanas por detalhes com os custos dos empréstimos elevados e os mercados voláteis. Além do risco para os fundos de pensão, o aumento nos custos dos empréstimos levou à retirada de ofertas de hipotecas mais baratas e a um salto nas taxas de empréstimos corporativos.
A libra esterlina reduziu algumas perdas anteriores, mas sua queda de setembro chegou a quase 7%, e a queda no acumulado do ano, a quase 20%.
O ex-governador do Banco da Inglaterra, Mark Carney, criticou o plano de Truss, dizendo que a liberação de apenas um “orçamento parcial”, sem o escrutínio do Escritório de Responsabilidade Orçamentária independente, enervou os investidores.
“É importante ter (o orçamento) sujeito a um escrutínio independente e, ouso dizer, especializado”, disse Carney.
Kwarteng e Truss agora devem defender sua estratégia e tentar acalmar os nervos do Partido Conservador, que deve iniciar sua conferência anual no domingo.
“Não há confiança no governo Truss agora”, disse Ipek Ozkardeskaya, analista sênior da Swissquote. “O problema não é o gasto fiscal em si, o problema é que as pessoas simplesmente não confiam no que ela está fazendo.”